1 - A reencarnação é uma crença segundo a qual a vida se situa numa infindável corrente de "retornos", num processo de expiação e de auto-redenção. Esta crença é base também para o teosofismo e o esoterismo. A revelação bíblica, porém, nos diz: "E como é um fato que os homens devem morrer uma só vez, depois do que vem o julgamento, do mesmo modo, Cristo foi oferecido uma vez por todas para tirar os pecados da multidão" (cf. Hb 9,27-28).
2 - O espiritismo, que tem como base a reencarnação, substitui as respostas das religiões pelas dos espíritos dos mortos, em sessões mediúnicas. Não tem nenhuma base filosófica e teológica, como não possui também nenhum fundamento bíblico. A invocação dos mortos é proibida pela lei divina, conforme Lv 19,31; 20,6.27 e Dt 18,11, notando-se, como exemplo bíblico, que às infidelidades de Saul às leis de Deus inclui-se também a de invocar o espírito de Samuel (cf. 1Cr 10,13), proibição de que ele, Saul, tinha consciência, tanto que expulsou todos os nigromantes e adivinhos de seu reino (cf. 1Sm 28,9).
3 - A doutrina da reencarnação, por si mesma, nega totalmente a redenção. Para o espiritismo, o homem é o redentor de si mesmo, nas diversas fases cármicas. É a auto-redenção, no sentido mais forte da expressão. Assim cai por terra: o sacrifício redentor de Cristo, a justificação pela graça, a condenação eterna, a iniciativa de Deus quanto à salvação humana etc.. Para os cristãos, é, porém, definitiva a afirmação bíblica:
"Pois não há sob o céu outro nome dado aos homens pelo qual devemos ser salvos" (At 4,12). Aqui a mediação de Cristo é absoluta e definitiva, sem chances inclusive para qualquer outro possível mediador. Quer dizer: a nossa salvação é iniciativa de Deus, que a realiza por meio de Cristo, na ação do Espírito Santo. Assim, jamais seríamos salvos pelos nossos méritos e por nossos esforços simplesmente.
4 - Como se vê, a reencarnação contraria não só um aspecto da fé cristã, mas todo o mistério cristão. Se não fosse assim, Cristo não diria ao ladrão arrependido "... em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no paraíso" (cf. Lc 23,43), pois o ladrão deveria reencarnar-se várias vezes para conseguir a justificação. Também a parábola do mau rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16,19-31) joga por terra toda a doutrina reencarnacionista. Crer, pois, numa justificação que não seja a de Cristo, pela graça, é negar todo o Cristianismo.
5 - A teoria da reencarnação dá soluções simplistas para os problemas da vida, mesmo os mais dolorosos. A expiação de culpas de vidas passadas, por exemplo, tira do crente a consciência de suas próprias culpas, e aqui também muitos males, até físicos, são atribuídos simplesmente às pessoas que os trazem. O Evangelho desmascara esse entendimento (cf. Jo 9,1-3). Raciocinando ainda: Como pode alguém expiar culpas de vidas passadas se delas não tem consciência nem lembrança? Deus pune assim mesmo? Mas, mesmo imperfeitos, até os tribunais humanos não punem uma culpa inconsciente. Nesse caso, os homens são mais misericordiosos que o próprio Deus? Não sejamos tolos: a redenção é obra de Deus, com participação do homem, e jamais o homem será justificado com esforço meramente humano.
6 - Não faz parte do pensamento bíblico a reencarnação. No Antigo Testamento, longe ainda de uma compreensão plena, a justificação era entendida como fruto da vivência da lei. Já no Novo Testamento, ela é pura graça, fruto, pois, do Mistério Pascal de Cristo, que os cristãos são chamados a viver pela realidade sacramental do Batismo, numa vida, pois, de plena participação, como sujeitos também da histórica salvífica de Deus.
João de Araujo