Projeto salvífico de Deus em Jesus Cristo

1 – A imagem desta página é uma tentativa de síntese para compreendermos o Mistério Pascal de Cristo, na sua realidade salvífica, realizando o projeto amoroso de Deus Pai. É criação original minha, para a qual me servi da mistagogia eucarística de Cesare Giraudo.

2 - Expliquemos: à esquerda da imagem, a seta da Ceia do Cenáculo aponta para o sacrifício do Calvário, este entendido como evento fundador da história salvífica, indicando-nos que tal sacrifício se encontra antecipado sacramentalmente na referida Ceia, ou seja, ele já está presente na véspera da Paixão do Senhor. Aqui se vê que a Eucaristia instituída pelo Senhor é também sacrifício, este deduzido pelas palavras da Consagração dos dons, como ensina o Catecismo da Igreja (nº 1365). A Ceia aparece como um sinal profético do evento fundador e salvífico do Calvário. Tal sacrifício, como nos ensina a Sagrada Escritura (Cf. 1Pd 3,18; Hb 7,27; 10,12), é único, irrepetível e inamovível no tempo e no espaço. Na imagem, a seta do Calvário  aponta para a Eucaristia, aqui como páscoa repetível das gerações futuras, como quis o Senhor, mediante a ritualidade litúrgica e sacramental de nossas celebrações eucarísticas, confirmando então o evento fundador do Calvário nelas presente, como acima foi dito com relação ao acontecimento do Cenáculo.

3 - Devemos saber que a Eucaristia recebe do Calvário a dimensão sacrifical e do Cenáculo a dimensão convivial. A marca sacrifical da Eucaristia é afirmada nas palavras da instituição, como se afirmou acima (“Tomai e comei... corpo que será entregue... tomai e bebei... sangue que será derramado”). Também o gesto da fração do pão, antes da comunhão, não é apenas gesto prático para a participação de todos no mesmo pão (sentido eclesial e convivial), mas também ao sentido de sacrifício propriamente dito: pão partido, isto é, corpo sacrificado para a redenção de todos.

4 - A fé católica nos diz que a obra de nossa redenção é sempre exercida quando se celebra a Eucaristia, sacrifício então do altar, que é o mesmo e único sacrifício da Cruz (cf. LG 3; CIC 1364), aqui, pois, na realidade simbólica e sacramental, não então como repetição histórica do evento fundador, diga-se. Entendamos mais: a terceira seta, à direita, como que fazendo voltar a "páscoa das gerações" para o Calvário, faz-nos entender que, ao celebrarmos a Eucaristia, somos reapresentados ao evento fundador de nossa redenção, por uma necessidade teológica, diria, pois, mesmo batizados, muitas vezes nos encontramos na situação histórica dos nossos irmãos judeus, quando "sentiram" saudades das “panelas de carne” do Egito (cf. Ex 16,3). Lá, isto é, no Calvário, física e historicamente não estávamos, é verdade, mas não se trata na celebração eucarística de presença física, espacial, temporal ou histórica, que é impossível, mas de presença sacramental, simbólica e mística, que é também verdadeiramente real.

5 - Como diz Cesare Giraudo, “A celebração da Eucaristia é nosso modo de ir ao Calvário e ao sepulcro vazio: um ir não físico, mas no memorial, pela retomada ritual do sinal profético do pão e do cálice, por uma ação figurativa, sacramental e, portanto, absolutamente real” (pág. 90). Quando celebramos a Eucaristia, "nossos pés físicos nos mantêm na igreja, é verdade, mas nossos pés teológicos nos levam ao Calvário, ao túmulo vazio e ao esplendor da manhã luminosa do Domingo da Páscoa", diria eu, em conformidade com as palavras de Giraudo.

6 - São Paulo nos ensina que no nosso batismo teologicamente morremos com Cristo na cruz, descemos com ele à tumba e com ele fomos sepultados, como também com ele ressurgimos da morte para a vida definitiva e eterna (Rm 6,3-11; Ef 2,6). Essa verdade bíblica e teológica deveria  ser suficiente para encher  de alegria e de consolo a nossa vida, mas isso nem sempre acontece, por causa talvez de nossa frieza espiritual, esta também explicada pela raquítica formação catequética que tivemos. Devemos entender que o Batismo faz de nós verdadeiramente filhos de Deus, mas não nos livra de imperfeições e de precariedades, como se afirmou antes, visto que Deus, nosso Pai, sempre respeita nossa liberdade. Não raro então nos vemos muitas vezes voltados para os “Egitos” do mundo, que nos escravizam, onde os “faraós de plantão” de vez em quando nos fazem alguns “gestos de bondade”, dando-nos de graça "uma vacina anual contra a gripe", por exemplo.

7 - Saibamos finalmente que, ao dar-nos a ordem de iteração do memorial de sua morte e ressurreição – a Eucaristia - o Senhor deu-nos a alegria de sermos reapresentados sacramentalmente aos acontecimentos redentores de nossa redenção, "como estando todos nós lá”.  Saibamos ainda: todos os atos redentores de nossa história salvífica encontram-se na pessoa de Jesus Cristo, sendo ele mesmo a nossa Páscoa. Consciente dessa verdade plena, São Paulo vai dizer: “Pois nossa Páscoa, Cristo, foi imolado (Cf. 1Cor 5,7), afirmação que a Igreja também tomou como sua em todos os prefácios da Páscoa. Assim, “a Eucaristia é, para nós, simultaneamente, todo o Calvário e toda a manhã gloriosa da ressurreição”, graças ao valor sacramental da Liturgia.


BIBLIOGRAFIA

 

1- "Num só corpo" - Tratado mistagógico sobre a Eucaristia - (Cesare Giraudo) - Edições Loyola

João de Araújo

 

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