1. Sempre empoeirada, / Talvez pouco amada,
À beira da estrada / Encontra-se a cruz.
Ei-la, pois, calada, / Não diz quase nada
À gente apressada, / Vagando sem luz!
2. Cansado, em suor, / Pensa o viajor
Somente na dor / Que alguém lá sofreu!
Mas perto uma flor / Respira frescor
E diz que o amor / Ali renasceu!
3. Silente, ela traz / Certeza de paz
Daquele que faz / Da terra o seu véu!
O céu se compraz / Na vida capaz,
Que vai sempre atrás / Das coisas do céu!
4. Viveu sem maldade, / Morreu na humildade,
É toda a verdade / Que a cruz quer dizer.
Tamanha bondade / Me deixa saudade,
Dá sempre vontade / De assim também ser!
Nota:
Embora talvez possa lembrar a muitos, este poema nada tem de comum com a “Cruz da Estrada”, de Castro Alves. É claro que não se pode fazer também aqui comparação literária. O meu texto é simples, inspirado em fato real, que conheci e vivi quando criança. A cruz, silenciosa, à beira do caminho, onde eu sempre passava, sinalizava para a morte, no local, de um parente meu. Em sua simplicidade, a cruz continua sempre viva em minha memória.
João de Araújo