O sonho da paz

sonho-da-paz.JPGSenhor, olho o céu, as montanhas, os rios. Contemplo o universo. Os luminares mais distantes. Sinto a vida na erva rasteira, nas plantas e nas pedras. Tudo te louva, Senhor, e tudo em ti se harmoniza. Tu contemplas eternamente toda a tua obra. E, porque a contemplas, ela te reflete. E tudo é canonizado por ti.

Criaste-nos, porém, acima de todas as coisas. Como síntese admirável do universo. Não para sermos simples hóspedes em tua casa, como outrora se sentia o judeu piedoso. Não para sermos nobres tão-somente pisando em tuas soleiras, como simples convidados teus. Chamaste-nos, sim, do nada à gloriosa liberdade de filhos, para vivermos em tua intimidade e habitarmos para sempre em teus átrios sublimes. Que deus, pois, se revelaria tão misericordioso como tu? E quem mais nos revestiria de tanta grandeza?

Foste capaz, Senhor, de esvaziar-te ao extremo, para que pudéssemos ser divinos. E para que tivéssemos a glória do céu, não levaste em conta a nossa indignidade e não fizeste perguntas sobre os nossos pecados. Sabias, pois, que a nós muito custaria esvaziar-nos de nossas misérias para ceder-te espaço em nossas vidas, tão repletas de insignificância!

Fomos, pois, criados à tua imagem, mas nos tornarmos, a cada instante, diferentes de ti. Não sabemos ainda cultivar a simplicidade de anjos. E, a todo momento, eis-nos apegados à matéria, trincando-nos cada vez mais e tornando-nos sempre menos capazes de revelar ao mundo a tua face serena de Deus.

Mas tu sabias que isso aconteceria em nossa vida, Senhor. E por isso pensaste em nossa salvação, antes mesmo de nos criar. Não te alegrarias com a frustração de nossa queda, nem nos deixarias mergulhados nela, mas nos darias o consolo divino da Redenção. De nossos corações, vasos quebrados pela displicência espiritual de nossas vidas, tu farias corações novos, como disseste um dia. Corações que fossem capazes de pulsar sempre mais forte no teu coração de Pai.

E foi pensando assim que colocaste teu Filho – plenitude de todos os teus desejos – antes mesmo da infância do mundo, para manifestar-nos um dia o teu plano de eterno amor por nós. Para assumir as nossas fraquezas e nossas limitações. Nossos nadas e nossas imperfeições. Como Palavra Incriada, ele nos revelaria o que as palavras jamais seriam capazes de revelar: o teu mistério profundo de paz e de amor. Os insondáveis desígnios de um Deus, cujo coração é pura fonte de bondade e de misericórdia.

E ele surgiu em nossa vida como dádiva do céu. Surgiu em nossos horizontes, aparentemente sem ti, é verdade, vazio de glória, mas para encher-nos de tua plenitude. Mas as trevas não o receberam, tu sabes, pois não estavam dispostas a perder um reino que julgavam ser eternamente delas. E resolveram então massacrar a Luz. A tua Luz. E teu Filho, Senhor, foi aparentemente vencido. Numa derrota até mesmo compreensível, pois não tinha, como afirmou, soldados neste mundo. Mas tu reservaste a vitória definitiva ao teu plano de amor. Teu Filho ressuscitaria, como de fato ressuscitou. Com todo o esplendor de luz e de santidade. E tu quiseste, Senhor, que a vitória dele sobre as trevas fosse eternamente a nossa vitória. Não te preocupaste com a tua glória, mas com a nossa. Num desapego que o só Amor infinito pode explicar.

Por isso agora, na nossa peregrinação rumo a ti, já não sentimos tanto as agruras do deserto. Pois nós sabemos que, após sua travessia, tu nos esperas, feliz, na Terra Prometida. E estamos voltando, Senhor, como filhos exilados, aos teus braços de Pai. Eis, pois, o sonho mais nobre de teu povo escolhido. E ele, nós sabermos, é o teu maior sonho também! 


João de Araújo



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