O Sol desponta, Senhor, no horizonte da vida, iniciando o seu reinado de luz.
Armaste para ele uma tenda lá no alto. E ele vai, de horizonte a horizonte, jorrando energia.
Nada, pois, escapa ao seu calor. As flores e a minúscula plantinha lhe acenam, agradecidas.
À tarde, aos olhos humanos, parece, porém, morrer lentamente. Mas ele não teme a morte, nem se sente frustrado em seu aparente declínio. E ei-lo firme, a despertar outras vidas, iluminando caminhos e plantando esperanças.
No silêncio das noites, Senhor, enquanto dormimos, ele faz serão.
Não descansa e não faz greves, Não vive a gritar por direitos ou por louvores. Tampouco teme os momentos de eclipse, que, por vezes, tentam ofuscar-lhe a luz.
Como as almas em ti mergulhadas, caminha sem o menor egoísmo, fazendo da vida uma eterna doação.
Tu o criaste como um foco de luz, e os astros, que dele dependem, são por ele chamados a participarem mais vivamente de sua vida e de sua luz, principalmente nos momentos em que parece ausentar-se.
O sol não dorme, é verdade, pois está em eterna vigília. Vemo-lo sobre os nossos tetos, contemplando a nossa vida, ocupando-nos em velar por ela, enchendo-a de seus raios vitais.
Os homens, Senhor, mesmo os mais reflexos, não podem fitá-lo adequadamente. Porém, não sou poucos os que ainda teimam em vê-lo apenas como uma “grande explosão atômica”, julgando que, com isto, já o elogiaram bastante. E vão dormir satisfeitos com sua conclusão, tão científica, é verdade, mas tão ingênua também.
Quiseste, Senhor, que o Sol fosse uma hierofania. E que sua luz, embora puramente natural e criada, fosse essencial à nossa vida.
Por isso agora nós te pedimos: protege-o em sua peregrinação de paz e não o deixes cansar. Pois – tu sabes – ele não pode ter férias. Se as tivesse, seríamos em pouco tempo sepultados.
Como aconteceria, Senhor, se tu te ausentasses de nossas vidas, mesmo por um segundo apenas.
Quiseste que o Sol, mesmo com missões naturais, se parecesse grandemente contigo.
E ei-lo fiel ao teu desejo de Deus.
João de Araújo