Quisera ouvir, Senhor, como tu ouves, sem apartes, sem murmúrios e sem emendas.
Quisera ver, como tu vês, com olhos espirituais e não de carne.
Quisera ocultar-me em ti, sem dar explicações, sem saber explicá-las, sob as vaias do mundo e sem os vivas dos meus.
Quisera ser como tu me criaste: uma beleza de ser, na semelhança de ti e com jeitos de anjo.
Quisera ter um coração puro, com perfumes do Céu,
para acolher o Infinito na pequenez de meu ser.
Quisera viver não por causa da vida, nem por puro altruísmo,
nem por causa da graça, mas tão somente por ti.
Quisera ser esquecido, totalmente esquecido,
para, no silêncio do silêncio, pronunciares o meu nome.
Quisera amar, Senhor, sim, quisera amar,
não com o motivo dos homens, miserável e pequenino,
mas como tu amas, sem a triste busca de recompensa.
Quisera o teu segredo, Senhor, (não deveria querê-lo?)
Sim, tens razão, jamais o entenderia
se não me crucificasse também pelos irmãos!...
João de Araújo