APRESENTANDO
Li com grande satisfação e verdadeiro enlevo as excelentes reflexões da “VIA-SACRA, CAMINHADA DE TODOS NÓS” de João de Araújo. Achei um trabalho marcado por sadia originalidade e acredito que será muito proveitoso usar esse roteiro para a Via-Sacra. A antiga devoção, que santificou tantas gerações, continua assim a receber novas modalidades que a tornam viva e atual. Deus abençoe o Autor.
Dom João Resende Costa
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte
(Falecido em 21-07-2007)
INTRODUÇÃO
A Via-Sacra é a nossa própria caminhada, humanamente vivida por Cristo e por ele totalmente assumida. Porque vivida por ele, torna-se exemplo de caminhada. Cristo, oferecendo-se por nós, não nos atira, porém, à margem de nossa histórica salvífica, pois desta o Pai jamais quis que fôssemos reduzidos a meros espectadores.
Assim, a vida cristã equivale a uma missão. Aponta-nos também uma cruz, que não só devemos carregar, mas sobretudo amar. Quase sempre, porém, achamos mais fácil xingar a cruz, brigar com ela, do que, propriamente, assumí-la. Achamos mais cômodo um cristianismo sem cruz, ao nosso jeito, no nosso esquema. Às vezes, até um cristianismo sem CRISTO.
Como alguém que cumpre uma pena, como alguém que tomou sobre si a responsabilidade do pecado, Cristo, pois, assume a nossa cruz. Esta se torna mesmo dele. Mas ele a assume não de modo vago, teórico, abstrato, mas sim existencialmente, ou seja, com todas as suas consequências vivenciais. E nesta perspectiva, a salvação adquire dimensões humanas, isto é, acontece na nossa vida, e desta vai sempre exigir uma resposta vivencial.
A cruz vai, assim, pouco a pouco, tornando-se opção em nossa vida. Assumindo-a, amando-a, vivendo-a em Cristo, optamos pelo critério do espírito, critério do amor, critério de Deus. Nossa vida então brilhará como luz pascal e será contínuo anúncio de liberdade e de paz. Ao contrário, rejeitando a cruz, optamos pelo critério da carne, critério do egoísmo. Critério humano, tremendamente vazio, capaz de trucidar, já no início, qualquer caminhada. É o critério dos homens na primeira estação da Via-Sacra: vivendo no egoísmo, a humanidade se torna agressiva, capaz de condenar o próprio Deus.
Para nosso resgate total, Cristo, Dom do Pai, leva nossa cruz ao Calvário. Nela, toda a ferrugem de nossa vida, todos os deslizes humanos, a multidão de nossos pecados. Uma cruz especial, sob medida, de matéria-prima universal. Nela, pois, toda a maldade humana não simplesmente pendurada, mas entranhada, cravada, fundida. O peso desta cruz era o de toda uma humanidade quebrada, que, como sucata humana, não mais revelava a imagem de seu Criador. Para carregar tal cruz, para assumi-la, não era suficiente a força física de um homem, mas sim o AMOR SEM LIMITES de um DEUS.