1 - Diz a Instrução Geral do Missal Romano: “A parte principal da liturgia da palavra é constituída pelas leituras da Sagrada Escritura e pelos cantos que ocorrem entre elas, sendo desenvolvida e concluída pela homilia, a profissão de fé e a oração universal ou dos fiéis. Pois nas leituras explanadas pela homilia, Deus fala ao seu povo, revela o mistério da redenção e da salvação e oferece alimento espiritual; e o próprio Cristo, por sua palavra, se acha presente no meio do povo” (cf. IGMR nº 55). E ainda: “Mediante as leituras é preparada para os fiéis a mesa da palavra de Deus e abrem-se para eles os tesouros da Bíblia” (Ib. nº 57).
2 - Aqui, devemos entender a dimensão salvífica da Palavra de Deus, pão da Palavra, que nos é dado como salvação antes mesmo do pão eucarístico e com este em estreita ligação. Fazem parte da Liturgia da Palavra as leituras bíblicas, a homilia do presidente, o “Creio” e as preces dos fiéis.
3 - É preciso, pois, entender a Palavra de Deus como diálogo de salvação, sendo que, na liturgia, como palavra proclamada e celebrada, ela se torna ainda mais eficaz, porque se faz verdadeiramente sacramental, dada a ação sacerdotal de Cristo nela operante. Assim, se na criação Deus disse “Faça-se a luz, e a luz se fez” (cf. Gn 1,3), e na redenção disse por meio do Filho “Lázaro, vem para fora”, e o morto saiu (cf. Jo 11,43-44), poder manifestado também em tantos outros lugares da Escritura, assim, na Liturgia, a mesma operosidade salvífica se realiza. Tal força da Palavra de Deus vai operar-se depois, com a mesma eficácia, nas palavras então do relato institucional, ou Consagração.
4 - Na primeira parte da celebração da missa, se assim podemos falar, um dos nossos sentidos chamado à participação mais viva podemos dizer que é a audição. Somos, pois, chamados a ouvir, escutar, como na antiga lei: "Ouve, Israel..." (cf. Dt 6,4), em escuta, pois, receptiva. Dois livros litúrgicos são usados na Liturgia da Palavra: o Lecionário, que já deve encontrar-se no ambão, para as leituras, e o Evangeliário, que é levado do altar para o ambão, e deste retirado após a proclamação do Evangelho, não mais voltando para o altar, mas colocado em lugar apropriado, como na credência, por exemplo.
5 - Na Liturgia da Palavra podemos observar como que um movimento epifânico, conforme comparação de Máximo Confessor, seguindo Orígenes, isto é, um movimento de manifestação visível do mistério da salvação, que, na história salvífica, então se verifica num crescendo, sempre mais vivo e dinâmico. Assim, primeiramente fala o Profeta, na primeira leitura (sombra); depois, na segunda leitura, o Apóstolo nos mostra já a experiência pastoral da Igreja (imagem); e no Evangelho, culminância da Liturgia da Palavra, é Cristo mesmo quem nos dirige a palavra do Pai (Presença).
6 - Na visualização, pois, da realidade e da história da salvação, como acima se propõe, podemos distinguir a dinâmica progressiva da Liturgia da Palavra: da sombra para a imagem, e da imagem para a Presença. Parece que é isso também que a Instrução Geral quer dizer quando afirma: “Por isso, é melhor conservar a disposição das leituras bíblicas pela qual se manifesta a unidade dos dois Testamentos e da história da salvação...” (cf. IGMR nº 57).
João de Araújo