A procissão de entrada

1 - Conforme a Instrução Geral sobre o Missal Romano, os ritos iniciais têm por finalidade fazer com que os fiéis, reunindo-se em assembleia, constituam uma comunhão e se disponham para ouvir atentamente a palavra de Deus e celebrar dignamente a Eucaristia (n° 46b). Deveríamos perguntar-nos se em nossas comunidades esses ritos têm atingido a finalidade apontada pelo Missal. Neste trabalho, queremos refletir um pouco somente sobre o primeiro deles, a procissão de entrada.

2 - Com os olhos da fé, podemos ver na entrada solene dos ministros a presença viva da Igreja, já nela também presente a pessoa de Cristo, visivelmente representada pelo sacerdote, como seu ícone sacramental. Além das pessoas, também objetos sagrados se fazem presentes na procissão, como as velas, o incenso, a cruz, o Evangeliário e outros símbolos da comunidade, quando úteis à celebração. Às vezes, em certas celebrações, temos a impressão de que o rito de entrada fica muito “carregado”, com elementos demais, desnecessários. Aqueles, porém, apontados pelo Missal são ricamente simbólicos e nos ajudam a entrar no mistério da celebração.

3 - Parece não ser importante, mas a procissão de entrada, como o primeiro dos ritos iniciais, já pode nos dar uma ideia de como será a celebração: se sóbria, simples e objetiva, então todos os demais ritos são convidados a dar os mesmos passos da simplicidade, que caracteriza a Liturgia. Ao contrário, se alheia aos dados da objetividade litúrgica, poderá inaugurar ela os descompassos de toda uma celebração.

4 - A imagem descrita acima como negativa pode ser resultado da introdução na procissão de entrada de elementos secundários, sem força simbólica, em nome da criatividade, mas prescindindo do essencial, do que é verdadeiramente simbólico. Para um bom início de celebração, a procissão de entrada pode ser enriquecida, por exemplo, quando, pelo menos em alguns domingos e solenidades, nela se leva o Evangeliário, ou o Círio, este no Tempo Pascal. Quanto ao Círio Pascal, quando usado, ele deve guiar a procissão, dispensando então a cruz processional e as velas, isto para que não haja duplicidade de sinais cristológicos no mesmo rito.

5 - Outra verificação que podemos fazer no rito de entrada diz respeito ao canto que a acompanha. Nem sempre esse canto “cumpre” a sua finalidade de abrir a celebração e introduzir a assembleia celebrante no mistério do tempo litúrgico, isto porque seu conteúdo quase sempre fica distante dessa função ministerial tão importante. Às vezes o canto se prolonga após o rito, pelo simples fato de ter qualidade musical, o que não se justifica liturgicamente. O canto pode, sim, prolongar-se, mas quando há incensação no início da celebração.

6 - Não havendo canto, principalmente nos dias feriais, a antífona proposta no Missal pode ser recitada, como também o próprio sacerdote pode adaptá-la a modo de exortação inicial (cf. IGMR nº 48b). Resumindo, diríamos: o canto de entrada acompanha um rito, o rito de entrada; terminado o rito, termina-se também o canto, é lógico.

7 - Numa referência mais espiritual, podemos dizer que a procissão de entrada simboliza a marcha do povo de Deus para a casa do Pai. Aqui, então, a sua marca escatológica que, por si só, já nos mostra a sua importância litúrgica. Ela marca inicialmente a passagem do cotidiano para o simbólico, do mundo “ferido pelo pecado para o mundo da vida nova ao qual todos somos chamados”. Finalmente, podemos dizer que, embora os fiéis permaneçam em seus lugares na igreja, liturgicamente a procissão dos ministros os conduz também ao altar de Deus.

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João de Araújo - A procissão de entrada