Função ministerial do comentarista

 

1 - O comentarista (que pode também ser chamado de animador) deve exercer a sua função, a serviço dos fiéis, com breves monições na celebração, visando dispor a comunidade para uma participação também mais plena e consciente. Sejam então suas explicações cuidadosamente preparadas, sóbrias e claras. Deve ele exercer a sua função em lugar adequado, voltado para a assembleia, uma vez que está a serviço dela, mas não deve fazê-lo do ambão. No exercício de sua função, seja simples, não chamando a atenção para si mesmo.

2 - Com relação ao ministério do comentarista, algumas orientações, de ordem também pratica, talvez sejam valiosas. Assim, na Liturgia da Palavra, por exemplo, em vez de antecipar explicações de seu conteúdo ou de sua temática, o ideal é que ele soubesse, com palavras próprias, motivar a assembleia simplesmente, predispondo-a para a escuta atenta da Palavra de Deus. O que aqui se diz só é aplicável, porém, com objetividade, nas comunidades que não usam folhetos.

3 - Entendamos: referindo-se a “primeira leitura”, “segunda leitura”, o comentarista estará falando o óbvio, isto é, aquilo que toda a assembleia já sabe. Voltando ao tema da Palavra de Deus, muitas vezes o que o folheto diz não é o que a Liturgia de fato está celebrando, dada a riqueza da revelação bíblica, com suas múltiplas aplicações. Melhor, pois, é deixar que Deus fale. Cabe à assembleia ouvir. De acordo com o que aqui se propõe, o comentarista poderia então dizer, com sobriedade: “Vamos agora, irmãos e irmãs, celebrar a Liturgia da Palavra. Atentos, ouçamos o que Deus quer nos falar.” No Evangelho, diria simplesmente: “Vamos aclamar e ouvir o Evangelho”. O convite para ficar “assentados” ou “de pé” é desnecessário. Não se deve insistir naquilo que o povo já sabe, ou que já deveria saber.

4 - Com relação aos ritos iniciais, a IGMR, no n° 50, vai dizer: “Feita a saudação ao povo, o sacerdote, o diácono ou um ministro leigo, pode, com brevíssimas palavras, introduzir os fiéis na missa do dia”. Como se sabe, à saudação aqui referida, o povo responde “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”, momento em que a assembleia se vê de fato liturgicamente constituída. E o Guia Litúrgico Pastoral, da CNBB, na página 32, esclarece: “Só depois desta saudação, convém situar a celebração no tempo ou festa litúrgica e na realidade da comunidade com a recordação da vida, especialmente em comunidades menores, nas quais os fiéis podem efetivamente recordar em voz alta os acontecimentos”. Em seguida, o Guia Litúrgico chama a atenção para se evitarem os costumeiros “comentários iniciais”.

5 - “Introduzir os fiéis na missa do dia” é o mesmo que situar a celebração no tempo ou festa litúrgica. Assim, o sacerdote ou o comentarista diria simplesmente: “Reunidos no amor de Cristo, celebremos, com viva alegria, o Mistério Pascal, nesse domingo do Tempo Comum” (mudando-se, conforme o tempo litúrgico ou festa). Como recordação da vida, devemos entender o espaço ideal para manifestar os fatos marcantes da vida da comunidade: bodas, momentos de dor e de luto, missas de 7° e 30° dia, e acontecimentos marcantes da semana que passou, seja no bairro, na cidade, na região ou no mundo, mas sem prolongar muito esse momento.

6 - Não é preciso nem conveniente que o comentarista diga exatamente as palavras dos exemplos acima, que podem ser mudados, melhorados e atualizados. Na Liturgia da Palavra, em algumas comunidades, costuma-se dizer o nome do leitor, mas não é recomendável, pois a atenção deve voltar-se para o Senhor que fala, sendo aqui o leitor instrumento que Deus usa para comunicar-se com o seu povo. Dadas as orientações do Guia Litúrgico-Pastoral da CNBB e da Instrução Geral do Missal Romano (IGMR), a celebração da Eucaristia pode ser iniciada simplesmente com o canto de entrada, dispensando muitas vezes longo palavreado que nada acrescenta à sua eficácia litúrgica.

João de Araújo

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