1 - Pentecostes, no Antigo Testamento, era uma festa agrícola, Festa das Semanas, estas em número de sete, acrescendo-se a elas mais um dia, o quinquagésimo (cf. Lv 23,16), recebendo então a festa também o nome de Pentecostes, como se vê em Tb 2,1. Sabe-se que, na antiguidade, o primeiro e o último dia de um período de tempo eram contados como um só dia.
2 - Dizemos então que a Festa de Pentecostes era celebrada no templo, com diversos sacrifícios (cf. Lv 23,15-21), sete semanas após a colheita do trigo, como ação de graças pela sua colheita. Posteriormente, ela ganhou sentido simbólico, pois foi relacionada com o evento salvífico central da aliança antiga, ou seja, a proclamação da lei no monte Sinai. Segundo At 2,1-13, foi nesse dia, em Jerusalém, que se verificou a efusão do Espírito Santo, em dimensão, porém, de universalidade, dado o simbolismo das línguas e dos vários povos presentes.
3 - Para nós, cristãos, Pentecostes ganha novo sentido e, na liturgia, é o coroamento de todo o ciclo da Páscoa, numa solenidade que celebramos após cinquenta dias da ressurreição, isto acontecendo na Igreja desde o século II. Pentecostes marca, pois, o início solene da vida da Igreja (cf. At 2,1-41), não o seu nascimento, uma vez que este se dá, misteriosamente, na Sexta-Feira Santa, do lado do Cristo Crucificado, como sua esposa imaculada. Podemos dizer que “a Páscoa é a imolação e glorificação de Cristo, e o Pentecostes é a sua exaltação como Kyrios pela Igreja, plena do seu Espírito”. A Solenidade de Pentecostes encerra e coroa o ciclo da Páscoa.
4 - Na liturgia, o Círio Pascal é aceso, como símbolo do Senhor ressuscitado, nos cinquenta dias após o domingo da Páscoa, mesmo nos dias de semana. Isso mostra o caráter festivo que a Igreja quer dar ao Tempo Pascal, como tempo vivo de páscoa, "um grande domingo", nas palavras de Santo Atanásio. Segundo as Normas Universais para o Ano Litúrgico e o Calendário, os dias de semana depois da Solenidade da Ascensão do Senhor até o sábado antes de Pentecostes inclusive, servem como preparação para a vinda do Espírito Santo Paráclito. O lugar mais adequado para o Círio, no espaço celebrativo, é próximo ao ambão.
5 - Como já foi dito, Pentecostes coroa a obra da redenção, pois nela Cristo cumpre a promessa feita aos apóstolos, segundo a qual ele enviaria o Espírito Santo Consolador, para os confirmar e os fortalecer na missão apostólica. Assim, “quem doa o Espírito é o Senhor glorificado”, o que nos permite afirmar e confessar, com maior fidelidade à teologia do Espírito, que ele é Dom que o Ressuscitado faz à sua Igreja. A vinda do Espírito Santo, no episódio bíblico de At 2,1-4, deve então ser entendida também em dimensão eclesiológica, ou seja, o Espírito vem e manifesta a Igreja ao mundo como sinal perene de salvação e como templo vivo do mesmo Espírito (cf. SC n. 6).
6 - Como sabemos, a partir do missal de Paulo VI Pentecostes é celebrada como “festa pascal”, na unidade do mistério cristão, e não simplesmente como festa comemorativa da descida do Espírito Santo, como era celebrada desde o século VII, o que a tinha tornado festa independente, inclusive com oitava. Mesmo hoje é provável que exista ainda resquício da compreensão antiga, principalmente em certos movimentos de inspiração carismática. O importante, porém, é saber que o encerramento da Páscoa se dá com a efusão do Espírito Santo, que leva ao cumprimento pleno o mistério pascal da Morte e Ressurreição do Senhor, revelando assim a todos os povos o mistério oculto nos séculos.
Notas:
a) - No final da celebração de Pentecostes, o Círio Pascal deve ser guardado, com veneração, no Batistério ou em outro lugar digno, acendendo-se nas celebrações do Batismo, da Crisma e nas exéquias, quando estas são feitas na igreja.
b) - A liturgia de Pentecostes é a mesma para os três ciclos de leituras, tanto para a vigília
como para a missa da solenidade, podendo, porém, tomar outros textos para os Anos B e C, como se expõe abaixo.
Textos bíblicos para a Solenidade de Pentecostes:
Para a vigília:
Gn 11,1-9 ou Ex 37,1-14 ou Jl 3,1-5
Sl 104[103],1-2a.24.35c.27-28.29bc-30
Rm 8,22-27
Jo 7,37-39
Para a missa do dia:
At 2,1-11
Sl 104[103], 1ab.24ac.29bc-30-31.34
1Cor 12,3b-7.12-13 (Para o Ano B pode ser Gl 5,16-25, e para o Ano C Rm 8,8-17)
Jo 20,19-23 (Para o Ano B pode ser Jo 15,26-27; 16,12-15, e para o ano C Jo 14,15-16.23b-26)
FONTES:
- O Ano Litúrgico (Adolf Adam) – Paulinas
- Liturgia Dominical (Johns Konnings, S. J.) Ed. Vozes)
- Dicionário de Liturgia (diversos autores) - Paulus
- Diretório da Liturgia - CNBB
João de Araújo