O Senhor ressurgiu realmente. Aleluia! (Antífona da Liturgia das Horas)
Considerações litúrgicas
1 - O tempo litúrgico que vai do Domingo da Páscoa ao Domingo de Pentecostes chama-se Tempo Pascal, um período de cinquenta dias, nos quais brilha mais intensamente a luz do mistério da Páscoa, na alegria do Senhor ressuscitado. Podemos dizer que a frase típica do Tempo Pascal poderia ser: “Aleluia! O Senhor ressuscitou verdadeiramente. Aleluia!” (cf. Lc 24,34; At 3,14-15). É, pois, no Tempo Pascal que a liturgia canta com mais vivacidade o aleluia da ressurreição.
2 - Na liturgia do Tempo Pascal, além da ênfase do canto do Aleluia, o Círio pascal é aceso, como símbolo do Senhor ressuscitado, mesmo nos dias de semana, uma vez que ele é o símbolo mais importante da Páscoa. Isso mostra o caráter festivo que a Igreja quer dar ao Tempo Pascal, que, além de ser um tempo de viva alegria, é também preparação para a grande solenidade de Pentecostes, que encerra e coroa as festas pascais. Segundo Santo Atanásio, o Tempo Pascal deve ser celebrado como um "grande domingo", ou seja, um domingo com duração de cinquenta dias, e o domingo da Páscoa, segundo Santo Agostinho, deve ser considerado e celebrado como o “domingo dos domingos”.
3 - Com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II somente duas celebrações na Igreja mantêm a "Oitava", isto é, um prolongamento festivo da festa principal por oito dias, durante os quais a liturgia se volta com o caráter festivo da solenidade principal. As duas Oitavas são, pois, do Natal e da Páscoa. Principalmente na Oitava da Páscoa, dada a sua importância litúrgica, não se celebra nenhuma outra festa ou solenidade. Caindo uma festa na Semana Santa ou na Oitava da Páscoa, esta é omitida; se, porém, o grau da celebração for solenidade, esta é transferida para a segunda-feira após a Oitava pascal. A Oitava da Páscoa vai, assim, do Domingo da Páscoa ao domingo seguinte, este, chamado antes “domingo in albis”, em que os novos batizados depunham suas vestes brancas. Por decreto da Congregação do Culto e da Disciplina dos Sacramentos, de 23 de maio de 2000, o segundo Domingo da Páscoa passou a chamar-se também “Domingo da Divina Misericórdia”.
4 - Acentuando “mais fortemente a unidade do tempo pascal”, os domingos do Tempo Pascal, antes chamados de “Domingos depois da Páscoa”, são chamados agora, pela reforma litúrgica, de "Domingos da Páscoa", com a identificação de 2º, 3º etc.. São sete tais domingos e, no sétimo, no Brasil se celebra a Solenidade da Ascensão do Senhor. Como se vê, a Páscoa tem um prolongamento imediato, nos oito dias seguintes, na chamada Oitava, onde não se faz nenhuma outra celebração, e um prolongamento mais extenso, indo até à Solenidade de Pentecostes, prolongamento em que outras celebrações não são omitidas.
Liturgia do Tempo Pascal
5 - O Tempo Pascal, na liturgia, é fortemente marcado pela espiritualidade joanina, por ser o Evangelho de João considerado como “Evangelho pascal”. Assim, aos domingos, com exceção do da Ascensão, o Evangelho é de João, como será de João o dos dias de semana, exceto em alguns dias da Oitava da Páscoa, notando-se também que o Evangelho de João já vinha sendo lido desde a quarta semana da Quaresma, nos dias de semana. Além disso, para todos os domingos do Tempo Pascal, a segunda leitura será: para o ano A, a predominância de 1Pd; para o ano B, a predominância de 1Jo; e para o ano C, a predominância do Apocalipse. Já a primeira leitura do Tempo Pascal é sempre dos Atos dos Apóstolos, confirmando o antigo uso então afirmado por São João Crisóstomo e por Santo Agostinho, e isto se observa tanto para aos domingos como para os dias de semana. Podemos dizer que, usando o livro dos Atos dos Apóstolos na primeira leitura do Tempo Pascal, a Igreja conta e ouve a história de si mesma nos seus primórdios, como elemento edificante também para a sua própria edificação. Solenidades do Tempo Pascal
6 - Além do Tríduo Pascal, que é a celebração principal da Páscoa, duas outras solenidades marcam também o Tempo Pascal. São elas a Ascensão do Senhor e Pentecostes. Vejamo-las separadamente:
Solenidade da Ascensão do Senhor
No Brasil, é o domingo que celebra a subida do Senhor ao céu, quarenta dias após a ressurreição, segundo a indicação de Lucas (cf. At 1,3). A data certa da solenidade seria na quinta-feira precedente, mas, como no Brasil não é feriado, transferiu-se então tal comemoração para o domingo seguinte, ocupando, pois, tal solenidade o lugar do 7º Domingo da Páscoa. Deste, porém, podem ser tomadas as leituras no sexto domingo, quando pastoralmente for conveniente. “Os dias de semana depois da Ascensão até o sábado antes de Pentecostes inclusive, servem de preparação para a vinda do Espírito Santo Paráclito (cf. NALC n. 26). Além disso, a semana que vai da Ascensão a Pentecostes é de Oração pela Unidade dos Cristãos.
Solenidade de Pentecostes
7 - No Antigo Testamento, Pentecostes era uma festa agrícola, Festa das Semanas, adquirindo depois sentido simbólico e histórico, relacionado com o evento do Sinai. Para nós, cristãos, é uma festa nova, pascal, e na liturgia é o coroamento de todo o ciclo da Páscoa, numa solenidade que celebramos após cinquenta dias da ressurreição, isto acontecendo na Igreja desde o século II. A Solenidade marca, pois, o início solene da vida da Igreja (cf. At 2,1-41), não o seu nascimento, uma vez que este se dá, misteriosamente, na Sexta-Feira Santa, do lado do Cristo Crucificado e adormecido na Cruz, como sua esposa imaculada. Podemos dizer que “a Páscoa é a imolação e glorificação de Cristo, e o Pentecostes é a sua exaltação como Kyrios pela Igreja, plena do seu Espírito”.
8 - É bom saber que, a partir do missal de Paulo VI, Pentecostes é celebrada como “festa pascal”, na unidade do mistério cristão, e não simplesmente como festa comemorativa da descida do Espírito Santo, como era celebrada desde o século VII, o que a tinha tornado festa independente, inclusive com Oitava. É provável que ainda hoje exista resquício da compreensão antiga, principalmente em certos movimentos de inspiração carismática. O importante, porém, é saber que o encerramento da Páscoa se dá com a efusão do Espírito Santo, que leva ao cumprimento pleno o mistério pascal da Morte e Ressurreição do Senhor, revelando assim a todos os povos o mistério oculto nos séculos.
9 – Encerrando, pois, o Ciclo da Páscoa, e coroando-o, Pentecostes nos revela o cumprimento da promessa de Cristo, feita aos Apóstolos, segundo a qual ele enviaria o Espírito Santo Consolador, para os confirmar e os fortalecer na missão apostólica. Assim, a vinda do Espírito Santo, no episódio bíblico de At 2,1-12, deve ser entendida como manifestação da Igreja a toda a humanidade, em dimensão, pois, universal, no desejo do Pai e do Filho. No final da celebração, o Círio Pascal deve ser guardado, com veneração, no Batistério ou em outro lugar digno, acendendo-se nas celebrações do Batismo, da Crisma e nas exéquias, quando estas são feitas na igreja.