1 - Assim como a Páscoa tem um tempo de preparação, chamado Quaresma, tem também o Natal um tempo litúrgico que o prepara, chamado Advento, que significa vinda. Como a Quaresma, é então o Advento um tempo privilegiado na Igreja, com acentos litúrgicos especiais. Tem ele duas características, marcadas por dois momentos. O primeiro vai do primeiro domingo do Advento até o dia 16 de dezembro. Neste primeiro momento, a liturgia nos fala da segunda vinda do Senhor no fim dos tempos, a chamada escatologia cristã, aí presentes os temas do julgamento final, da vigilância, da missão de João Batista etc.
2 - Costuma-se chamar o primeiro momento do Advento de “Advento escatológico”. O segundo momento, que vai do dia 17 ao dia 23 de dezembro, é como que a "semana santa" do Natal. Nesse período, conhecido também como “Advento natalício”, a liturgia vai nos falar mais diretamente da primeira vinda do Senhor, no Natal, tendo aí sempre presente a pessoa da Virgem Maria. Não é o Advento tempo penitencial, no sentido próprio e litúrgico, mas tempo de expectativa, de esperança, de vigilância, de sobriedade, de moderação e também de conversão.
3 - Mesmo sem ter uma data fixa de início, todos podem saber, sem dificuldade, quando se inicia o Advento, pois ele tem uma referência: 30 de novembro. Se, porém, 30 de novembro não for domingo, então o Advento começa no domingo mais próximo, na prática o domingo que fica entre os dias 27 de novembro e 3 de dezembro. Não nos esqueçamos de que com o Advento iniciamos não só o ciclo do Natal, mas também o novo Ano Litúrgico, e este vai terminar no sábado da 34ª semana do Tempo Comum.
4 - Quatro domingos figuram no Advento. Na simbologia numérica, podem nos remeter às quatro estações do ano solar, às quatro semanas do mês lunar, como também aos quatro pontos cardeais. Aqui pode-se ver não só a harmonia entre tempo histórico e tempo cósmico, participando da dinâmica feliz de “tempo de salvação” (Kairós), como também o espaço cósmico como “lugar” da presença salvífica de Deus.
5 - Num estudo acomodatício da história humana, poderíamos dizer que Deus preparou a Humanidade em quatro grandes períodos, de maneira progressiva, para a grande obra de redenção em seu Filho. Esses quatro períodos poderiam ser simbolizados nos quatro domingos do Advento, e seriam: 1º) O tempo primitivo de Adão a Noé - 2º) O de Noé a Abraão - 3º) O de Abraão a Moisés – e, finalmente, o 4º) O tempo que vai de Moisés a Cristo. Com Abraão começa, historicamente, a caminhada da salvação (cf. Gn 12). Adão e Noé, aqui como patriarcas do gênero humano; Abraão, como patriarca do povo hebreu; e Moisés, como condutor do povo de Israel, na saída do Egito. Já no dado litúrgico, vemos que três personagens bíblicos sempre marcaram o tempo do Advento. São eles: o profeta Isaías, João Batista e a Virgem Mãe de Deus.
Considerações litúrgicas do Advento
6 - O terceiro domingo do Advento é chamado "Gaudete", isto é, domingo da alegria, já por ele como que antecipando as alegrias do Natal. Nesse domingo, a antífona de entrada, tomada de Fl 4,4-5, vai dizer: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos. O Senhor está perto”. Além disso, no Ano B, a segunda leitura (1Ts 5,16-24) é uma exortação à alegria e à ação de graças, e, no Ano C, a segunda leitura vai ser o próprio texto de Fl 4,4-7. A cor litúrgica do domingo “Gaudete” pode ser rósea.
7 - Em cada domingo do Advento acende-se uma nova vela. No simbolismo, porém, das quatro velas podemos ver não um sentido quantitativo da luz, mas o crescendo de sua intensidade, à medida que se aproxima o Natal. Por isso não são acesas já as quatro velas desde o início do Advento, mas no primeiro domingo acende-se uma; no segundo, duas; no terceiro, três; e no quarto, quatro. Quanto à cor das velas, não existe uma norma a respeito, ficando, pois, a critério de cada comunidade e de sua cultura.
8 – É interessante notar que nos domingos do Advento canta-se o Aleluia, que é aclamação jubilosa, mas não se canta o Glória, que é também um hino jubiloso. O fato de cantarmos o Aleluia mostra, pois, o caráter não penitencial do Advento, este sempre considerado pela Igreja como um tempo de piedosa e alegre expectativa da vinda do Senhor, seja na dimensão natalícia da Encarnação, como comemoramos no Natal, seja na dimensão definitiva e escatológica do fim dos tempos. Já a omissão do Glória explica-se por um comentário antigo às Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, que diz: “no Natal, o canto dos anjos deve ressoar como algo de inteiramente novo” (cf. Adolf Adam – O Ano Litúrgico – p. 131). Se cantássemos então o Glória no Advento, no Natal tal canto não seria novidade.
9 - Quanto à cor litúrgica do Advento, influenciada desde o século XII pela liturgia galicana a Liturgia romana, oficialmente, sempre indicou a cor roxa, o que não combina, porém, com o sentido litúrgico do Advento, e a nova IGMR (n. 346d) ainda insiste na sua indicação, facultando, porém, às Conferências Episcopais propor adaptações à Sé Apostólica. No Brasil, o Diretório da Liturgia continua trazendo a indicação do roxo, numa clara posição de indiferença, ou de esquecimento. Se a cor roxa vai finalmente prevalecer como definitiva para o Advento, admitindo-se facultativamente a cor rosa para o 3º domingo (Gaudete), então seria normal que também o Advento seja considerado, oficialmente, como "tempo penitencial", como a Quaresma, onde a cor roxa a caracteriza, tornando então frágeis e quase inúteis as minhas considerações litúrgicas sobre o Advento, principalmente as do número 8 acima.
10 - A coroa do Advento, ou grinalda, em sua forma circular, com suas quatro velas, é o símbolo principal do Advento, e quer chamar nossa atenção, já no início do Ano Litúrgico, para o mistério de Deus que nele vamos celebrar. O círculo, sem indicação de começo nem fim, é símbolo da eternidade. Assim, vendo uma circunferência, não sabemos onde ela começa nem onde termina. Por isso, é aconselhável que haja no Advento a coroa e não simplesmente que as quatro velas sejam expostas e acesas, pois teríamos simbolicamente a luminosidade, mas não a expressão simbólica do eterno.
11 - Pode-se revestir a coroa do Advento com folhas de pinheiro. Como sabemos, o pinheiro é a única árvore que não perde as suas folhas facilmente, seja no inverno rigoroso da Alemanha, onde teve origem a coroa, seja no nosso verão de hemisfério Sul. Então o verde das folhas, que teima em não morrer, nos fala também, em linguagem simbólica, do mistério cristão, que nunca perde o seu verdor, simbolizando, pois, a esperança, virtude que deve estar sempre viva na vida cristã. Assim, na vivência de nossa fé, devemos também resistir a todas as intempéries da vida (problemas, angústias e agitações múltiplas), como ainda às investidas do mal.
(Leia também outras considerações sobre o Advento clicando aqui)
João de Araújo