CENTRO, NÚCLEO E FUNDAMENTO DO ANO LITÚRGICO
1 - Na reforma do Ano Litúrgico, o Concílio Vaticano II, retomando o espírito da Igreja primitiva, enfatizou o Domingo como dia de celebração do Mistério Pascal e como fundamento e núcleo do Ano Litúrgico (cf. SC nº 106). E o Catecismo da Igreja Católica vai dizer: ..."A Ceia do Senhor é o seu centro, pois é aqui que toda a comunidade dos fiéis se encontra com o Senhor ressuscitado, que os convida ao seu banquete" (CIC nº 1166).
NORMAS LITÚRGICAS RELATIVAS AO DOMINGO
2 - As Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário (NUALC), que entraram em vigor no ano de 1969, concretizaram a diretriz do Concílio, estabelecendo que somente uma festa ou solenidade do Senhor pode tomar o lugar da celebração litúrgica dominical, não, porém, ainda nos domingos do Advento, da Quaresma e da Páscoa, os quais gozam de preferência sobre todas as festas e solenidades do Senhor (cf. NUALC 5 e 6).
3 - Dada, porém, a faculdade das Conferências Episcopais, quanto à aplicação das normas universais em calendário regional ou particular (cf. SC nº 22 § 2; NUALC nº 51), no Brasil, por decisões da CNBB, confirmadas pela Sé Apostólica, ou pela simples aplicação das normas universais, são celebradas no Domingo:
a) a Festa da Sagrada Família, que se celebra no Domingo entre os dias 26 e 31 de dezembro, caso haja domingo nesse período;
b) a Solenidade da Santa Mãe de Deus, quando o dia 1º de janeiro cai em Domingo (aqui também devido à precedência das solenidades sobre os domingos do Tempo do Natal);
c) a Solenidade da Epifania do Senhor, no Domingo que ocorre entre os dias 2 e 8 de janeiro;
d) a Festa do Batismo do Senhor, no Domingo seguinte ao da Epifania, quando esta é celebrada entre os dias 2 e 6 de janeiro;
e) a Solenidade da Santíssima Trindade, no Domingo seguinte ao da Solenidade de Pentecostes;
f) a Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, no Domingo entre 28 de junho e 4 de julho;
g) a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, no Domingo seguinte a 14 de agosto;
h) a Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo, no último Domingo do Tempo Comum;
i) a Solenidade de Todos os Santos, no primeiro Domingo de novembro, que cede, porém, lugar à celebração dos Fiéis Defuntos, quando o primeiro Domingo de novembro cai no dia 2. Nesse caso, a Solenidade de Todos os Santos é celebrada no sábado, dia primeiro.
Notas:
1ª - Com referência à Festa da Sagrada Família, quando não há Domingo entre os dias 26 e 31 de dezembro, então ela é celebrada no dia 30 , em qualquer dia, pois, da semana.
2ª - Já a Festa do Batismo do Senhor, quando a Epifania é celebrada no Domingo que cai no dia 7 ou 8 de janeiro, é então celebrada na segunda-feira seguinte, hipótese em que a primeira semana do Tempo Comum começará na terça-feira.
3ª - Com relação à Comemoração dos Fiéis Defuntos, predomina a decisão da CNBB, pois a Solenidade de Todos os Santos vem em primeiro lugar na escala litúrgica.
4ª - As celebrações referidas em "e", "f", "g", "h" e "i", acima, tomam, pois, o lugar dos Domingos do Tempo Comum, quando neles celebradas.
4 - No Brasil, ainda se celebra no Domingo:
a) A Solenidade da Imaculada Conceição, quando o dia 8 de dezembro cai em Domingo, mesmo tratando-se de tempo do Advento (neste caso, como exceção, e por decisão da CNBB, em Assembléia Geral de 1973);
b) A Solenidade da Ascensão do Senhor, que, no Brasil, ocupa o lugar do 7º Domingo da Páscoa. (Neste caso, as leituras bíblicas do 6º Domingo podem, eventualmente, num ano ou noutro, e por razões pastorais, ser substituídas pelas do 7º Domingo, se assim decidir a comunidade celebrante).
Nota:
As solenidades de São José, em 19 de março, e da Anunciação do Senhor, em 25 de março, quando caem em Domingo, não são nele celebradas, uma vez que estão situadas liturgicamente no tempo da Quaresma. Nesta hipótese, são celebradas na segunda-feira seguinte, embora as normas litúrgicas iniciais tenham falado de antecipação no sábado. A Anunciação do Senhor pode, inclusive, cair na Semana Santa, hipótese em que é transferida para a segunda-feira após a Oitava da Páscoa.
5 - Como "Solenidades" e "Festas do Senhor", de acordo com as normas universais, têm precedência sobre Domingos do Tempo Comum, então, quando neles caem, são celebradas:
a) A Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, em 12 de outubro;
b) A Natividade de São João Batista - também Solenidade - em 24 de junho;
c) A festa da "Apresentação do Senhor", em 2 de fevereiro;
d) A festa da "Exaltação da Santa Cruz", em 14 de setembro;
e) A festa da "Transfiguração do Senhor", em 6 de agosto;
f) A festa da "Dedicação da Basílica do Latrão", em 9 de novembro (V. nota abaixo).
Nota:
A festa da "Dedicação da Basílica do Latrão", antes celebrada somente em Roma, estendeu-se mais tarde a toda a Igreja de Rito romano, com o fim de honrar a basílica que é chamada "mãe e cabeça de todas as igrejas da Urbe e do Orbe". Assim, deixou de ser uma festa diocesana e particular e assumiu fisionomia universal. As normas ou rubricas de sua celebração são as relativas à dedicação das igrejas catedrais, com aplicação, porém, universal. Daí, sua celebração também em Domingo do Tempo Comum, como referido na letra "f" acima.
FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA DO DOMINGO
6 - As celebrações festivas e litúrgicas da Igreja primitiva, no fervor pascal do Cristo ressuscitado, sempre foram centradas na Ceia do Senhor (cf. 1Cor 11,20). Davam elas, assim, aos primeiros cristãos um sentido de viva pertença a Cristo (cf. 1Cor 10,16), uma alegria de jubilosa expectativa de sua segunda vinda, expressa em sua oração "Maranatha" - Vem, Senhor Jesus! - (cf. 1Cor 16,22; Ap 22,20).
7 - Tais celebrações cristãs eram realizadas no primeiro dia da semana (At 20,7), chamado então "Dia do Senhor", isto é, Domingo, pedra, pois, fundamental de todo o edifício litúrgico. É o dia da ressurreição do Senhor, de que falam todos os evangelistas (Mt 28,1ss; Mc 16,1ss; Lc 24,1ss; Jo 20,1ss). E o Domingo vai ser também o dia das primeiras aparições do Senhor Ressuscitado (cf. Mt 28, 1.9.16-17; Mc 16,9.12.14; Lc 24,1.13-15.36; Jo 20,1.14-23.26), dia em que também comunica aos Apóstolos o Espírito Santo (cf. Jo 20,22-23).
8 - Na expectativa messiânica, o Domingo é "visto" no Antigo Testamento como o dia que "o Senhor fez para nós" (Sl 118(117)24), dia, pois, da ressurreição e da jubilosa alegria pascal. Essa alegria sem par, prefigurada no relato bíblico da criação, onde Deus cria a luz no primeiro dia (cf. Gn 1,3), é vista no Novo Testamento como a nova luz "que ilumina todo homem" (Jo 1,9), tornando-o nova criatura (2Cor 5,17) e homem novo (Ef 2,15). Luz que é, finalmente, podemos concluir, o próprio Deus, Ele mesmo a brilhar na Jerusalém Celeste (Cf. Ap 22,5).
O DOMINGO NA LITURGIA
9 - Nos primeiros séculos do cristianismo, o domingo era também chamado de "oitavo dia" pelos Santos Padres. São Justino explicava que, na liturgia, "o primeiro dia é também o oitavo...", entendendo que o "oitavo dia é também sempre o primeiro", pois ele volta a ser o primeiro, na dinâmica do ciclo semanal litúrgico. Nos relatos bíblicos das aparições do Senhor Ressuscitado a Maria Madalena e aos discípulos, (cf. Mt 28,9-10; Mc 16,9-11.14-18; Lc 24,36-49, Jo 20,11-18), as aparições acontecem no primeiro dia da semana, no próprio dia da ressurreição, e, oito dias depois, vai acontecer nova aparição, com a presença de Tomé (cf. Jo 20,26). Mas esse "oito dias depois" é também o primeiro dia da semana, como vimos no ciclo em espiral da semana cósmica e litúrgica. Em nosso tempo, o Concílio Vaticano II vai recordar-nos: "Devido à tradição apostólica que tem sua origem no dia mesmo da ressurreição de Cristo, a Igreja celebra a cada oitavo dia o Mistério Pascal..." (SC 106). Quando falamos de "primeiro dia", recordamos a criação e a redenção, na gênese da vida, tanto a física ou biológica, quanto a espiritual e pascal; e quando nos referimos a "oitavo dia", queremos falar da marcha rumo à eternidade, à escatologia, ou seja, ao Domingo sem fim da volta do Senhor.
10 - O Catecismo da Igreja Católica, citando a liturgia bizantina, vai afirmar de maneira simples: "O dia da ressurreição de Cristo é ao mesmo tempo "o primeiro dia da semana", memorial do primeiro dia da criação, e o "oitavo dia", em que Cristo, depois de seu "repouso" do grande Sábado, inaugura o dia "que o Senhor fez", o "dia que não conhece ocaso".
11 - Também a CNBB, no documento 43, vai nos ensinar: "O cristão, à semelhança dos judeus, consagrou um dia por semana à celebração de seus mistérios. A escolha recaiu sobre o primeiro dia da semana, dia da Ressurreição do Senhor, dia também que recorda a criação em Cristo, o recapitulador da História. Por isso, além de ser o Dia do Senhor, o Domingo é também o dia do Homem que busca viver a liberdade" (nº 113).
12 - Na liturgia, o domingo é memória sempre viva do evento redentor de Cristo e, ao mesmo tempo, profecia da páscoa futura. Celebrando o memorial da Páscoa do Senhor, a Eucaristia, somos reapresentados aos acontecimentos da última ceia no Cenáculo, ao Calvário e à manhã luminosa da ressurreição, tornando-nos, sacramentalmente, presentes a eles e participantes de toda a sua eficácia redentora. Podemos dizer ainda que a Eucaristia é reapresentação sacramental da páscoa primeira, como também antecipação sacramental da páscoa definitiva e eterna, e isso com mais evidência na celebração dominical. Assim vemos que o domingo é síntese e culminância da história da salvação e, em sua dimensão escatológica, aponta-nos aquele dia eterno, o "hoje" perene de Deus, sonhado e esperado pelos seus filhos. Na sua dimensão bíblica, litúrgica e teológica, o domingo prenuncia, pois, o dia em que não haverá mais lágrimas, como diz o Apocalipse (Ap 21,4), dia, sim, de eterna alegria, no triunfo definitivo do Amor. Para Santo Agostinho, o Domingo, simbolizado pelo primeiro e oitavo dia ao mesmo tempo, é consagrado pela ressurreição do Senhor, constituindo assim a eternidade primeira e também a eternidade última (Sermão 169,3; 260).
CATEQUESE LITÚRGICA DAS CELEBRAÇÕES DOMINICAIS
13 - Dada a importância fundamental do Domingo para a vida cristã, como núcleo da liturgia, deve ele ser celebrado com o sentido mais profundo de festa e de exultação pascal. Assim, em sua preparação celebrativa, deve-se valorizar o sentido do novo, isto é, de tudo aquilo que vai proporcionar a quebra da rotina celebrativa, normal, diga-se, durante os chamados dias feriais da semana. E a propósito, a CNBB adverte: "Núcleo de todo o Ano Litúrgico e ponto de convergência de todos os dias da semana, o Domingo espera, urgentemente, mais atenção de nossa pastoral" (Doc. 43, nº 119b).
14 - Admitir que o Domingo pode ter a mesma fisionomia dos dias de semana seria simplismo, preguiça espiritual e afeição viciosa à mesmice. Em outras palavras, em sentido claro e catequético, seria relaxamento pastoral. Mas o outro lado também é verdadeiro: movidas por um entusiasmo não esclarecido, comunidades há que pensam que os dias da semana devem ter a mesma fisionomia festiva do Domingo, em termos celebrativos. São dois extremos. Ao primeiro, diríamos que o Domingo é festa principal, que alimenta os outros dias da semana. Não deve então trazer a mesma roupagem dos dias feriais. Já ao segundo, diríamos que os dias de semana devem ser cuidados sim, porém não com a solenidade do Domingo, salvo, é claro, quando durante a semana se celebra uma festa ou solenidade, de acordo com as normas litúrgicas de graduação. Aliás, se assim não fosse, o Domingo perderia a sua importância, a sua novidade e a sua centralidade, com relação à liturgia.
15 - No cotidiano de nossa vida, todos sabemos distinguir o Domingo dos dias comuns da semana, por exemplo: levantando mais tarde, dada a ausência dos atropelos da vida do trabalho; vestindo-nos com mais propriedade, seja para a festa cristã da missa dominical, seja para a liberdade do repouso e do descanso; até "exigindo" - diríamos - cardápio diferente para a nossa alimentação, o que é normal, compreensível e, às vezes, até pedagogicamente recomendável.
16 - Tratando-se, pois, de liturgia, é preciso então criatividade, por parte das equipes responsáveis. No Domingo, por exemplo, os cantos devem ser mais bem elaborados; os ritos, preparados cuidadosamente e celebrados com mais fervor; as leituras bíblicas, proclamadas com mais vivacidade; a homilia, revelando aquele trato familiar do sentido apostólico e da tradição; os objetos litúrgicos, tanto quanto possível (de acordo com a comunidade celebrante), substituídos por aqueles com mais "cara" de Domingo, como as toalhas do altar e do ambão, as flores, as velas, e até mesmo os paramentos sacerdotais. Também os símbolos devem, no Domingo, ser mais expressivos, na alusão desejável ao que propõe a Palavra de Deus, a festa ou o tempo litúrgico, na dinâmica do reino de Deus e do mistério divino. Também a equipe de acolhida se esmere no acolhimento de todos, pois é festa do Povo de Deus, e o espírito de fraternidade, de união e de comunhão viva dos irmãos deve estar presente desde o início da celebração, como marca de um povo que se alegra com o dom da redenção. Saibamos, finalmente, que o Domingo derrama para todos os dias da semana a vitalidade pascal da ressurreição do Senhor, assim como a celebração do Tríduo Pascal da Morte e Ressurreição do Senhor derrama a mesma vitalidade para todas as celebrações do Ano Litúrgico.
17 - Sabe-se que somente um fervor vivo da ressurreição, obra do Espírito Santo de Deus, nos corações, pode manter viva uma assembléia litúrgica, com sua fisionomia pascal. Quando, pois, esse fervor vivo não é pregado, cultivado e celebrado, a luz do Cristo vivo começa a ofuscar-se pela nossa frieza, e a assembléia, em vez de celebrar, em sentido próprio, vai apenas como que cumprir um preceito. A liturgia fica, assim, como que esvaziada, desprovida - diríamos - de seu caráter pascal de libertação, perdendo então o brilho de epifania da Igreja, isto é, de manifestação viva de um povo que caminha para a casa do Pai.
18 - O que aqui se diz aconteceu também nas celebrações da igreja primitiva. Deixando-se levar por outras motivações (cf. 1Cor 11,34), e esquecendo-se do sentido que lhes dava, inicialmente, a celebração da Ceia do Senhor, ou seja, o de profunda pertença a Cristo e à Igreja (cf. 1Cor 10,16), muitos cristãos também perderam a consciência da verdadeira comunhão e da libertação pascal, afastando-se até mesmo das celebrações (cf. Hb 10,25), como também outros, no mesmo sentido, chegaram até a provocar cisões na assembléia cristã (cf. 1Cor 11,18). Hoje, em muitas comunidades, mesmo com tantos progressos na vida litúrgica e na espiritualidade, vemos, com tristeza, repetições dolorosas de tais comportamentos.
19 - Somente, pois, com o sentido pascal nossas liturgias se tornam verdadeiramente vivas, festivas e eficazes, cheias de redenção e de puro louvor ao Deus vivo. E é para isso que devem trabalhar as equipes litúrgicas, isto é, em verdadeiro ministério, servindo à comunidade. A assembléia depende e muito desse trabalho pastoral das equipes, e uma liturgia viva exige a participação consciente de todos, para que seja então um acontecimento redentor e memória viva da páscoa cristã. Como celebração da Igreja, em Cristo, (sua Cabeça), ou de Cristo, em seu Corpo, (a Igreja), e como no corpo todos os membros têm uma função que lhes é própria, não delegável a outro membro, segue-se que a liturgia supõe a participação de todos, e a não participação de um membro torna, pois, mais fraca e mais pobre a celebração litúrgica.
20 - O Domingo, como aqui se enfatizou, é o Dia do Senhor, sem deixar de ser também o "dia do Homem", isto é, "o dia dos cristãos, o nosso dia", como diz São Jerônimo, dia do descanso humano, do lazer e da quebra de rotina também existencial, diante de tantos afazeres que a vida moderna impõe a todos. E, às vezes, num mundo consumista como o nosso, com suas propostas sedutoras de prazeres imediatos, muitos de nosso povo ficam aprisionados ainda mais. Se o homem de nosso tempo tem sede de libertação, o que é grandemente positivo, paradoxalmente encontra-se em nossos dias mais aprisionado ainda, seja física, moral, psíquica, como politicamente, numa cadeia cada vez maior de necessidades que ele próprio cria, ou que são para ele criadas pelo capitalismo selvagem. É a idolatria do "ter", invadindo e destruindo sempre mais a primazia do "ser", levando os templos cristãos a se esvaziarem, quando anêmica é a fé dos fiéis, enquanto os templos do consumismo - os Shopping Center das grandes cidades - se abarrotam cada vez mais de fiéis compradores. Talvez pudéssemos dizer, parafraseando o Evangelho, "que o mundo do consumismo é mais esperto que o mundo da sobriedade", assim como "os filhos das trevas são mais espertos que os filhos da luz (cf. Lc 16,8b).
21 - O Dia do Senhor, dia celebrativo da libertação pascal, como vimos, não pode nunca ser para o cristão dia de outros senhores e de outros deuses. Se é dia de churrasco, com sua fumaça agradável e seu cheiro contagiante, o que é um dado positivo, é também, antes, dia de incenso, com sua fumaça de louvor e seu perfume divino. Em outras palavras, é dia de elevar os olhos ao Deus de toda graça, em atitude orante, agradecida e humilde. Tudo, pois, deve concorrer para o descanso humano, tão necessário e essencial, como querido por Deus. E aqui o cristão, consciente e esclarecido, se verá diante de uma autêntica hierarquia de valores e de equilíbrio harmonioso. Mas - é verdade - haverá sempre aqueles para os quais uma só fumaça é necessária, seja a do incenso, seja a do churrasco.
22 - Diga-se também que, sendo o Domingo o dia da ressurreição do Senhor, é dia, pois, de profunda alegria, e não se justifica nele a prática da penitência, como sempre entendeu a Igreja, jamais prescrevendo para os seus filhos um jejum no Domingo, por exemplo. Diga-se ainda que a própria participação na liturgia dominical, por si só, simplesmente cultual, não é ainda garantia de santificação do Domingo. O que caracteriza um repouso santificante é um Domingo vivido no louvor derivante da liturgia, principalmente da celebração eucarística, por esta transformado e desta impregnado, incluindo então nele o lazer revitalizante, o encontro na família, o diálogo mais vivo com os amigos, a brincadeira pura e jovial, a descoberta interior pela contemplação da natureza etc., momentos estes reconhecidamente legítimos, mas na prática tantas vezes negados à maioria de nosso povo, dada a desigualdade social em que se encontra.
23 - Consideremos ainda que a própria celebração litúrgica do Domingo, na véspera, missa vespertina do sábado, como verdadeira celebração que é, seguindo a tradição judaica e cristã, segundo a qual o dia litúrgico do Domingo e das solenidades começa na tarde da véspera (cf. NUALC nº 3), pode levar a um afrouxamento no sentido dominical, pois muitos participam da missa no sábado tão-somente para terem um "domingo maior" (!), já cumprido o preceito.
BIBLIOGRAFIA
1 - Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário
2 - A Celebração na Igreja
3 - Constituição "Sacrosanctum Concilium"
4 - Catecismo da Igreja Católica
5 - CNBB - Documento 43
João de Araújo