(Subsídios e catequese litúrgica, passo a passo)
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1 - A Eucaristia, “sacramento dos sacramentos”, é o centro e o cume de toda a vida cristã, tanto para a Igreja na sua realidade universal como para cada fiel. Ação de Cristo e do povo de Deus, hierarquicamente constituído, organizado e ordenado, a Eucaristia se encontra no ápice da ação pela qual Deus santifica o mundo em Cristo, como também no vértice do culto que os homens, por Cristo, com Cristo e em Cristo, oferecem ao Pai (cf. IGMR n. 16). A Eucaristia é, na verdade, a máxima expressão da Igreja orante. Todas as atividades da vida cristã estão ligadas a ela e a ela ordenadas, como também dela decorrem, daí ser a Eucaristia não somente o ponto mais alto da vida da Igreja, mas também a fonte de sua espiritualidade e a força para toda a sua vida missionária e apostólica.
2 - Para que os frutos da Eucaristia sejam cada vez mais abundantes, deve a celebração eucarística ser disposta de maneira tal que todos, ministros e fiéis, participando cada um conforme sua condição, realmente concorram para aquele fim querido pelo Senhor ao instituir o sacrifício eucarístico de seu Corpo e Sangue, ou seja, “perpetuar o sacrifício da cruz através dos séculos até a sua volta, e para confiar à Igreja, sua esposa muito amada, o memorial de sua morte e ressurreição” (cf. IGMR n. 2a; SC n. 47), mediante o qual, pela comunhão sacramental, os fiéis formam o único corpo do Senhor, a Igreja, pedido orante objeto da segunda epiclese da Oração Eucarística.
3 - E a Instrução Geral do Missal Romano, já no seu início, vai falar do zelo da Igreja pela celebração da Eucaristia, afirmando: “Quando ia celebrar com seus discípulos a ceia pascal, onde instituiu o sacrifício do seu Corpo e Sangue, o Cristo Senhor mandou preparar uma sala ampla e mobiliada (Lc 22,12). A Igreja sempre julgou dirigida a si esta ordem, estabelecendo como preparar as pessoas, os lugares, os ritos e os textos, para a celebração da Santíssima Eucaristia” (IGMR n. 1).
4 - Com o objetivo, pois, de colaborar para que a celebração eucarística seja então mais facilmente compreendida, o presente trabalho visa apresentar a missa, em seus diversos momentos, numa estrutura ritual e celebrativa harmoniosa, às vezes com pequeno comentário litúrgico, pastoral e teológico. Para estudo, será dividida em duas partes: Liturgia da Palavra e Liturgia Eucarística, como os dois polos da celebração, ou seus dois centros dinâmicos.
5 - Na primeira parte, somos chamados a ouvir e responder, na dinâmica de voz-palavra, ou seja, voz que anuncia e prepara a salvação, voz precursora, como a de João Batista, preparando os caminhos do Senhor, e palavra que a realiza, como Palavra eficaz e salvífica - o Evangelho - melhor ainda, Cristo presente, ele mesmo como o Evangelho do Pai. Nosso olhar estará voltado para o ambão, e nossos ouvidos estarão atentos, em escuta receptiva da palavra de Deus, em sua comunicação descendente.
6 - Já na segunda parte, vamos não só ver, contemplar, voltando toda a nossa atenção agora para o altar, mas também fazer, realizar, orar, elevando nossas preces de ação de graças a Deus, principalmente na Oração Eucarística, aqui agora em comunicação ascendente e na dinâmica de ação-gestos-símbolos, visto que a Igreja, povo de Deus, faz a Eucaristia, ao mesmo tempo que a Eucaristia faz a Igreja.
7 - Os dois polos da Eucaristia (palavra e rito, ou palavra e gesto), se assim podemos dizer, não são, porém, independentes ou distintos, mas conexos (cf. SC 35), pois a Palavra faz nascer o gesto, e o gesto, na sua significação simbólica, sublima a Palavra (“Ele tomou o pão... tomou o cálice... (gesto), dizendo: tomai e comei... tomai e bebei...” (palavra).
8 - E a Igreja ensina que na Eucaristia são duas as mesas da salvação: a da Palavra e a do Pão eucarístico. Ambão e altar são, pois, lugares concretos e fontes do mesmo amor de Deus. E o Concílio Vaticano II, em vários documentos, vai afirmar: “A Igreja sempre venerou as divinas escrituras da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor, já que, principalmente na Sagrada Liturgia, sem cessar toma da mesa tanto da palavra de Deus quanto do Corpo de Cristo o pão da vida, e o distribui aos fiéis”, afirmando ainda que ela se nutre e vive da palavra de Deus e do pão eucarístico (cf. DV n. 21; AG n. 6b.; PO n. 18a ; PC n. 6c).
9 - Vejamos então, inicialmente, a estrutura ritual da missa, isto é, as suas partes, para depois fazermos breves comentários a cada rito e a cada momento.
PRIMEIRA PARTE: LITURGIA DA PALAVRA
(Ouvir - Escutar)
1 - RITOS INICIAIS
1.1 - Entrada ou abertura
1.2 - Saudação do presidente
1.3 - Ato penitencial e “Senhor, tende piedade” – (Kyrie eleison)
1.4 - Glória (grande doxologia)
1.5 - Oração do dia
2 - RITOS DA PALAVRA
2.1 - 1ª Leitura
2.2 - Salmo responsorial
2.3 - 2ª Leitura
2.4 - Aclamação ao Evangelho
2.5 - Proclamação do Evangelho
2.6 – Homilia
2.7 - Profissão de fé
2.8 - Preces comunitárias
SEGUNDA PARTE: LITURGIA EUCARÍSTICA
(Ver - Contemplar - Orar - Fazer - Realizar)
3 - RITOS PREPARATÓRIOS
3.1 - Procissão, preparação e apresentação dos dons
3.2 - Oração sobre as oferendas
4 - ORAÇÃO EUCARÍSTICA
4.1 - Diálogo inicial (Invitatório)
4.2 - Prefácio
4.3 - Santo ou Louvor Universal (Is 6,3; Ez 3,12; Ap 4,8; Sl 118, (117)26; Mt 21,9)
4.4 - Pós-Sanctus (Na verdade, ó Pai, ...)
4.5 - 1ª Epiclese (Invocação do Espírito Santo sobre os dons)
4.6 - Narrativa da instituição eucarística (Consagração)
4.7 - Aclamação Memorial ("Anunciamos, Senhor,..." - "Todas as vezes..." - “Salvador do mundo, salvai-nos...)
4.8 - Anamnese - (Memorial) - Ofertório
4.9 - 2ª Epiclese (Invocação do Espírito sobre os comungantes - Corpo da Igreja)
4.10 - Intercessões (Igreja - Mementos: vivos e mortos)
4.11 - Doxologia final ("Por Cristo, com Cristo e em Cristo...")
4.12 - O grande "Amém"
5 - RITOS DA COMUNHÃO
5.1 - Introdução pelo presidente
5.2 - Pai Nosso
5.3 - Embolismo ("Livrai-nos, Senhor, de todos os males...")
5.4 - Doxologia ("Vosso é o reino...")
5.5 - Oração da paz
5.6 - Abraço da paz (Com canto suplementar)
5.7 - Cordeiro de Deus (Rito da fração do pão - Canto litânico)
5.8 - Convite à comunhão ("Felizes os convidados..." Ap 19,9)
5.9 - Apresentação ("Eis o Cordeiro de Deus..." - Jo 1,36)
5.10 - Resposta da assembléia ("Senhor, eu não sou digno..." - Mt 8,8; Lc 7,6)
5.11- Comunhão eucarística (Canto)
5.12 - Momento de louvor (Interiorização)
5.13 - Oração após a comunhão
6 - RITOS FINAIS
6.1 - Avisos
6.2 - Bênção e despedida
6.3 - Canto final
6 - Dada a estrutura ritual da missa, na disposição acima, como uma radiografia litúrgica, façamos então agora algumas considerações sobre cada parte, mostrando também, em alguns casos, a sua ritualidade celebrativa.
PRIMEIRA PARTE - LITURGIA DA PALAVRA
1 - RITOS INICIAIS (IGMR - n. 46 a 54 e 120 a 127)
10 - Diz a Instrução Geral: “Os ritos que precedem a liturgia da palavra, isto é, entrada, saudação, ato penitencial, Kyrie, Glória e Oração do dia, têm o caráter de exórdio, introdução e preparação” (n. 46).
1.1 - Entrada ou abertura (IGMR - n. 47, 48, 120 a 123)
11 - - Este rito, de natureza processional, constitui-se pela entrada do sacerdote e dos ministros. Simboliza a caminhada de todo o povo de Deus para a casa do Pai. Daí sua importância na celebração. Podem dele participar outras pessoas que, de acordo com o momento celebrativo, seja oportuno, como nas grandes festas e solenidades e nas comemorações da própria assembleia celebrante. O Missal propõe a procissão de entrada na seguinte ordem:
a) - O turiferário com o turíbulo aceso, quando há incensação;
b) - Os ministros com as velas acesas e, entre eles, o acólito ou outro ministro com a cruz;
c) - Os acólitos e os outros ministros;
d) - O leitor, que pode conduzir o Evangeliário, um pouco elevado, à frente do sacerdote. Na missa com diácono, compete a este conduzir o Evangeliário. O Lecionário não é conduzido na entrada;
e) - O sacerdote que vai presidir a celebração.
Chegando ao altar, o sacerdote e os ministros fazem inclinação profunda, ou seja, inclinação do corpo. Os ministros que levam a cruz e as velas fazem, porém, inclinação simples, ou seja, inclinação da cabeça. (IGMR - n. 274e).
Já o leitor ou o diácono, quando leva o Evangeliário, que deve ser colocado então sobre o altar, não faz nenhum gesto do corpo. O sacerdote e o diácono beijam o altar, com reverência, e todos se dirigem aos seus lugares, no presbitério (IGMR - n.294c).
12 - O canto que acompanha a procissão de entrada deve ser um canto alegre, festivo, dada também a sua natureza processional. Geralmente se encerra quando o sacerdote chega ao lugar da presidência. Tem a finalidade de “abrir a celebração, promover a união da assembleia, introduzir no mistério do tempo litúrgico ou da festa e acompanhar a procissão do sacerdote e dos ministros” (IGMR - n. 47).
13 - Quando não se faz a entrada solene, isto é, quando o sacerdote e ministros se dirigem da sacristia para o altar, geralmente em missa com pequeno grupo, como também nas missas feriais, então o rito se torna de simples abertura. Neste caso, pode ser recitada só a antífona do Missal, ou então que o canto se resuma apenas numa estrofe e no refrão, por causa de sua natureza ministerial de simples abertura.
Em celebrações solenes, em que há incensação do altar, o canto pode prolongar-se durante todo o tempo da incensação. Também a cruz é incensada nesse momento. Após a incensação do altar, as relíquias e imagens de santos, expostas à veneração pública, podem ser incensadas, mas somente nesse início da celebração (IGMR - n. 277d).
1.2 - Saudação do presidente (IGMR - n. 50 e 124)
14 - Encerrado então o canto de entrada, inicia o presidente a celebração, fazendo sobre si mesmo o sinal-da-cruz, na referência à Trindade, dada a nota trinitária da liturgia. Todos fazem também sobre si mesmos o sinal-da-cruz, e o "Amém" da assembléia deve ser um “sim” a essa convicção eclesial, convicção que podemos dizer de fé pura, simples e teológica.
15 - Em seguida, o sacerdote acolhe a assembleia, saudando-a com o texto de São Paulo, de 2Cor 13,13: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”, a que a assembleia responde: “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”. Nesse momento, pode-se considerar então constituída a assembleia, por isso todos devem chegar antes, para que não tenham prejudicada a sua participação já desde o início.
16 - Constituída a assembléia, agora, e não antes, como se costuma fazer, o sacerdote (cf. IGMR n. 31), o diácono ou outro ministro, mesmo leigo (cf. IGMR n. 50a), no caso o comentarista, pode, com poucas palavras, introduzir os fiéis no sentido da missa, da festa ou do tempo litúrgico. No início da celebração, o comentarista diria então simplesmente: “Irmãos e irmãs, Deus nos reúne para ouvirmos a sua palavra e celebrarmos a Eucaristia. Iniciemos, com alegria, a nossa celebração, com o canto de entrada” (ou outro texto semelhante).
17 - Na resposta da assembleia (“Bendito seja Deus...”), à saudação do sacerdote, nota-se um ponto essencial para o entendimento da celebração: é Deus mesmo que convoca o seu povo para a liturgia. De fato, a assembleia celebrante é a convocada, daí o seu nome de assembleia, de Igreja reunida. Dispersos pela vida, o Senhor reúne os seus, para serem um só povo, e todos vêm de todos os lados, na simbologia da humanidade que caminha rumo à pátria definitiva.
18 - A Didaqué (IX,4), dando sustentação ao que afirmamos, vai dizer: “Da mesma maneira como este pão, quebrado, primeiro fora semeado (em forma de trigo) sobre as colinas e depois recolhido para tornar-se um, assim das extremidades da terra seja unida a ti tua igreja (assembleia) em teu reino; pois tua é a glória e o poder pelos séculos! Amém”.
19 - Digamos ainda que a assembleia litúrgica cristã concretiza, de maneira sacramental, no “hoje” da história salvífica, os objetivos e anseios divinos das grandes assembléias do Antigo Testamento, como a do Sinai (cf. Ex 19-24), com Moisés, ou como a de Siquém (cf. Js 24,1-28), com Josué. Caso haja sacrário no presbitério, com o Santíssimo, em vez da inclinação o sacerdote e ministros devem fazer a genuflexão. O mesmo rito que aqui se prescreve é repetido também no final da celebração (IGMR n. 274c).
1.3 - Ato penitencial e “Senhor, tende piedade”, ou Kyrie eleison (IGMR n. 51, 52 e 125)
20 - A função litúrgica do Ato penitencial na missa é para que, com ele, participemos da celebração com o coração puro, renovado, pois vamos celebrar os santos mistérios de nossa fé. Ele expressa não só a nossa condição penitencial, mas sobretudo a misericórdia do Pai, na gratuidade de seu perdão, que buscamos com fé, aproximando-nos do trono de Deus e de sua graça (Cf. Hb 4,16).
21 - Na celebração eucarística, não devemos então acentuar demais o aspecto penitencial, como nos faz ver Frei Alberto Beckhäuser, e como deixa entender a orientação do Missal. E mais: não devemos entender o “Senhor, tende piedade” em sentido penitencial, quando solto e desacompanhado das intenções ou monições litânicas, próprias do Ato penitencial. Originariamente, significa “Senhor, vós sois piedade, vós sois misericórdia”, e não tanto “Senhor, tende piedade...” como súplica de perdão. É ele um canto “em que os fiéis aclamam o Senhor e imploram a sua misericórdia”, colocado liturgicamente após o Ato penitencial (cf. IGMR n. 52a), sendo então uma aclamação de louvor, uma transição entre o Ato penitencial propriamente dito e o Glória.
22 - Não tendo, pois, por si mesmo, valor penitencial, e quando não inserido como refrão do Ato penitencial, deve o “Senhor, tende piedade” ser cantado ou proclamado após a absolvição geral do sacerdote (“Deus todo-poderoso tenha compaixão de nós...”), como ensina a IGMR.
23 - Não se deve usar para o Ato penitencial canto simplesmente com marca penitencial, principalmente quando contém sentimentos subjetivos, pessoais ou intimistas, pois tal canto não satisfaz a liturgia, que pede o sentido eclesial e comunitário, nas normas também aprovadas pelo Missal, sentido este fortemente identificado com a resposta do povo, na chamada tradição litânica.
24 - Impropriamente, fala-se ainda de absolvição geral, no Ato penitencial, quando, na verdade, estamos diante de uma súplica esperançosa do sacerdote, a favor da assembléia e de si mesmo. É uma súplica de perdão, mas indireta, com verbos usados no subjuntivo. Aqui, pois, o rito não tem valor sacramental, isto é, não corresponde à absolvição do sacramento da Penitência ou Reconciliação.
25 - Nos domingos, principalmente no Tempo Pascal, no lugar do costumeiro Ato penitencial, pode-se fazer a bênção da água e aspergir a assembléia, no chamado rito do “Asperges”, lembrando o nosso Batismo. O “Asperges” encontra a sua fundamentação bíblica no salmo: “Aspergi-me e serei puro do pecado, e mais branco do que a neve ficarei” (Sl 50(51), 9).
26 - Em muitas celebrações, verifica-se ainda - parece-nos - uma não compreensão do que acima expomos quanto à estrutura do Ato penitencial e sua finalidade litúrgica. Às vezes a criatividade, que é legítima na liturgia, acaba prejudicando a objetividade do momento litúrgico. Por isso, a seguir falamos das fórmulas propostas pelo Missal, sendo que a terceira pode ser mais usada, lembrando também que o “Senhor, tende piedade” pode ser sempre cantado.
EXEMPLOS DE ATO PENITENCIAL
FÓRMULA I DO MISSAL – COM O ATO DE CONTRIÇÃO
Convite do sacerdote à penitência
Pausa (silêncio)
S - Confessemos os nossos pecados.
T - Confesso a Deus todo-poderoso e a vós, irmãos e irmãs, que pequei...
S - Deus todo-poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados...
T - Amém
S - Senhor, tende piedade de nós.
T - Senhor, tende piedade de nós.
S - Cristo, tende piedade de nós.
T - Cristo, tende piedade de nós.
S - Senhor, tende piedade de nós.
T - Senhor, tende piedade de nós.
27 - Depois do “Senhor, tende piedade”, se domingo, festa ou solenidade, exceto no Advento e na Quaresma, entoa-se o canto do Glória, seguido do “Oremos” e da Oração do dia.
FÓRMULA II DO MISSAL
S - Tende compaixão de nós, Senhor.
T - Porque somos pecadores.
S - Manifestai, Senhor, a vossa misericórdia.
T - E dai-nos a vossa salvação.
S - Deus todo-poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados...
T - Amém.
S - Senhor, tende piedade de nós.
T - Senhor, tende piedade de nós.
S - Cristo, tende piedade de nós.
T - Cristo, tende piedade de nós.
S - Senhor, tende piedade de nós.
T - Senhor, tende piedade de nós.
FÓRMULA III DO MISSAL (Com o “Senhor, tende piedade” inserido no Ato penitencial)
S - Senhor, que viestes salvar os corações arrependidos, tende piedade de nós.
T - Senhor, tende piedade de nós.
S - Cristo, que viestes chamar os pecadores, tende piedade de nós.
T - Cristo tende piedade de nós.
S - Senhor, que intercedeis por nós junto do Pai, tende piedade de nós.
T - Senhor, tende piedade de nós.
S - Deus todo-poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados...
T - Amém
Notas:
a) - Todas as versões que mantêm a estrutura da III fórmula acima são válidas para a liturgia.
b) - Existem no Missal várias fórmulas de Ato Penitencial, com o “Senhor, tende piedade” inserido no próprio ato, como no exemplo acima, de acordo com o tempo litúrgico (Tempo Comum, Advento, Natal, Quaresma e Tempo Pascal) e que muito enriquecem as celebrações dos referidos tempos.
1.4 - Glória (grande doxologia) - IGMR - n. 53 e 126)
28 - O Glória é um hino antigo, de origem eclesiástica, não estrófico. Nele a Igreja, “congregada no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus Pai e ao Cordeiro”, imolado e glorificado.
29 - Hino antiqüíssimo, primeiramente da Igreja Oriental, passando depois para a Igreja do Ocidente. Já se cantava no século IV e constituía o Glória um privilégio, reservado ao papa, depois aos bispos, às missas primiciais dos presbíteros e, finalmente, à festa da Páscoa. Hoje, como sinal de alegria, pode-se cantá-lo também aos domingos e nas outras solenidades e festas, com exceção, porém, dos domingos do Advento e da Quaresma. Faz parte da celebração da Quinta-Feira Santa e da Vigília Pascal do Sábado Santo como ponto alto de tais celebrações.
30 - O Glória não é um hino trinitário, como muitos pensam, mas de fundo cristológico, e não deve ser parafraseado, como está acontecendo muito em nossos dias ou, pior ainda, substituído por outro canto. Como hino, deve ser sempre cantado. Chama-se também "grande doxologia", para distinguir-se da doxologia menor que todos conhecem: “Glória ao Pai...”
31 - Quando não se canta, o Glória deve ser recitado, mas para que se torne mais harmonioso, dada a sua natureza hínica, sugere-se a sua recitação em coro, seja de vozes masculinas e femininas, em grupos distintos, seja por alas da igreja.
1.5 - Oração do dia (IGMR - n 54 e 127)
32 - Encerrando os ritos iniciais, com o “Oremos”, seguido de breve silêncio, o presidente reza então em nosso nome a Oração do dia, antes chamada "Coleta". Esta oração é usada em toda a Igreja, sempre em íntima relação com o mistério celebrado, da festa ou do tempo litúrgico. É a primeira oração presidencial, que, como o próprio nome indica, deve ser rezada somente pelo sacerdote. O "Amém" da assembleia é a ratificação, ou seja, a confirmação de seu valor orante, ministerial e litúrgico. Dado o seu sentido de “coleta”, podemos, em silêncio, incluir nela nossa intenção pessoal.
33 - Diz a Instrução Geral: “Conforme antiga tradição da Igreja, a oração (presidencial) costuma ser dirigida a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo e por uma conclusão trinitária, isto é, com uma conclusão mais longa, do seguinte modo:
a) - Quando se dirige ao Pai: “Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”;
b) - Quando se dirige ao Pai, mas no fim menciona o Filho: “Que convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo”;
c) - Quando se dirige ao Filho: “Vós, que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo”.
Notas:
a) - Quanto às orações presidenciais, quatro são as que se usam na missa: a acima, encerrando os ritos iniciais; a sobre as oferendas, depois do “Orai, irmãos...”; a oração após a comunhão. Vê-se que essas três mantêm na liturgia ligação com os momentos de ritos processionais: no fim dos ritos iniciais; no fim do rito das oferendas e no fim da comunhão. A quarta e a mais importante é a Oração Eucarística, em todos os seus elementos dinâmicos e com toda a sua força salvífica.
b) - Quanto aos ritos iniciais, estes, em algumas celebrações, de acordo com as normas litúrgicas, podem ser celebrados de modo específico (IGMR n. 46c) . É o caso, por exemplo, do Domingo de Ramos e da Paixão, em que, depois da procissão ou entrada solene, omitem-se o sinal-da-cruz, a saudação e o Ato Penitencial, prosseguindo a missa já com a Oração do dia.
2 - RITOS DA PALAVRA (IGMR n. 55 a 71 e 128 a 138) - Deus nos fala - Escuta atenta e receptiva da assembleia
34 - Diz a Instrução Geral: “A parte principal da liturgia da palavra é constituída pelas leituras da Sagrada Escritura e pelos cantos que ocorrem entre elas, sendo desenvolvida e concluída pela homilia, a profissão de fé e a oração universal ou dos fiéis. Pois nas leituras explanadas pela homilia, Deus fala ao seu povo (cf. SC 33), revela o mistério da redenção e da salvação e oferece alimento espiritual; e o próprio Cristo, por sua palavra, se acha presente no meio do povo” (IGMR n. 55). E ainda: “Mediante as leituras é preparada para os fiéis a mesa da palavra de Deus e abrem-se para eles os tesouros da Bíblia” (cf. SC n. 51).
35 - Aqui, trata-se, pois, de entendermos a Palavra de Deus como diálogo de salvação, sendo que, na liturgia, como palavra proclamada e celebrada, ela se torna ainda mais eficaz, porque se faz verdadeiramente sacramental, dada a ação sacerdotal de Cristo nela operante. Assim, se na criação Deus disse “Faça-se a luz, e a luz se fez” (cf. Gn 1,3), e na redenção disse por meio do Filho “Lázaro, vem para fora”, e o morto saiu (cf. Jo 11,43), poder da palavra de Deus manifestado também em tantos outros lugares da Escritura, assim, na liturgia, a mesma operosidade salvífica se realiza: “Tomai, todos, e comei: isto é o meu corpo, que será entregue...”
“Tomai, todos, e bebei: este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança, que será derramado...” Aqui, pois, o pão se torna o Corpo do Senhor, e o vinho o seu verdadeiro Sangue. E, depois, é bom sabermos, Cristo não “disse” apenas palavras, ele mesmo é a Palavra, Palavra salvadora, o Verbo eterno de Deus, por quem Deus tudo fez e tudo salvou.
36 - Na primeira parte da celebração da missa, se assim podemos falar, um dos nossos sentidos chamado à participação mais viva podemos dizer que é a audição. Somos, pois, chamados a ouvir, escutar, como na antiga lei: "Ouve, Israel..." (cf. Dt 6,4), em escuta, pois, receptiva. Em celebrações mais solenes, em que se incensam, já nessa primeira parte, o altar, a cruz e o Evangeliário, somos convidados também a ver a fumaça do incenso e a sentir seu cheiro, o seu odor, exercitando então outro de nossos sentidos, o olfato.
37 - Na Liturgia da Palavra podemos observar como que um movimento epifânico, conforme comparação de Máximo Confessor, seguindo Orígenes, isto é, movimento de manifestação visível do mistério da salvação que, na história salvífica, então se verifica num crescendo, sempre mais vivo e dinâmico. Assim, primeiramente fala o Profeta, na primeira leitura (sombra); depois, na segunda leitura, o Apóstolo nos mostra já a experiência pastoral da Igreja (imagem); e no Evangelho é Cristo mesmo quem nos dirige a palavra do Pai (Presença).
38 - Na visualização, pois, da realidade e da história da salvação, mesmo sendo nós espiritualmente míopes, podemos distinguir a sua dinâmica progressiva: da sombra para a imagem, e da imagem para a Presença. Parece que é isso também que a Instrução Geral quer dizer quando afirma: “Por isso, é melhor conservar a disposição das leituras bíblicas pela qual se manifesta a unidade dos dois Testamentos e da história da salvação...” (IGMR n. 57).
39 - Fazem parte da Liturgia da Palavra, nos domingos e solenidades, as leituras bíblicas, em número de três; os cantos interlecionais, ou seja, os cantos que ficam entre as leituras (o salmo responsorial e a aclamação ao Evangelho); como também a homilia, a profissão de fé e a oração da comunidade. Pelo texto da Instrução Geral, não é mais permitida a redução das leituras, por razões pastorais, a uma ou duas, como antes decidiu a CNBB, na Assembléia Geral de 1970, pois diz a nova Instrução, enfaticamente: “Estas leituras sejam realmente feitas”, sem nada mais acrescentar (cf. IGMR n. 357).
40 - Nas possíveis adaptações pelas Conferências Episcopais, previstas no Capítulo IX, vamos encontrar, para a Liturgia da Palavra, apenas a faculdade de escolha de leituras da Sagrada Escritura a serem usadas em circunstâncias peculiares (n. 390).
41 - No exercício de seu ministério, o leitor não precisa, p. ex., dizer: “Leitura do livro...”. Basta dizer, por exemplo: “Livro do profeta Isaías”, ou “Profecia de Isaías”, “Carta de São Paulo aos coríntios”, ou ainda “Epístola de São Paulo aos coríntios” etc.. Da mesma maneira, o diácono ou o sacerdote não precisa dizer: “Proclamação do Evangelho...”, basta dizer: “Evangelho de NSJC, segundo...”. Também, na leitura e na proclamação, não é aconselhável a citação de capítulos e versículos do livro sagrado. O que importa no momento da celebração é o texto em si, já de sentido completo (perícope), como que uma síntese da revelação cristã.
42 - Para dar início à Liturgia da Palavra, o sacerdote pode, com brevíssimas palavras, nela introduzir os fiéis (IGMR n. 128). A Instrução diz “pode”, pois não há necessidade litúrgica de o fazer. Melhor seria se, terminados os ritos iniciais, todos se sentassem, sem nenhum convite para tal, e o leitor se dirigisse ao ambão, para proclamar a leitura, mostrando então uma maturidade litúrgica de todos.
Nota: Onde fosse, porém, necessário, o comentaristia apenas diria, p. ex.: “Assentados, ouçamos a Palavra de Deus”, sem aquele verbalismo muitas vezes impróprio em querer “explicar” ou antecipar o conteúdo ou sentido do texto bíblico, o qual deve ser percebido em escuta atenta e receptiva pela assembléia e a ela mais ainda explicitado e explicado na homilia.
2.1 - 1ª leitura (IGMR - n. 57 e 128)
43 - A primeira leitura, na Liturgia da Palavra, é escolhida em função do Evangelho e vai com ele ter íntima ligação temática. Não está, porém, no mesmo nível da grandeza evangélica, porque o Antigo Testamento, do qual é tirada, é simples preparação da Nova Aliança. A perícope bíblica é então prefiguração (sombra) do fato novo, que o Evangelho vai anunciar e realizar. Já no Tempo Pascal, quando a liturgia está toda voltada para a vitória pascal do Senhor, a primeira leitura vai ser tomada do Atos dos Apóstolos, descrevendo então a rica espiritualidade da Igreja nascente.
44 - Aqui cabe, pastoralmente, enfatizar a importância do ministério do leitor, pois é através dele que a Palavra de Deus chega, inicialmente, à assembléia. O leitor se torna então um arauto da Palavra. Todos - sacerdote, ministros e fiéis - estão assentados para ouví-lo. Por isso deve ele ter uma formação adequada, mostrando-se familiarizado com a Sagrada Escritura e com o Lecionário e, melhor ainda, com rica bagagem de espiritualidade bíblica e litúrgica. Nesse sentido, seu ministério se torna um testemunho de fé e de zelo cristão. Dirigindo-se ao ambão, onde já deve encontrar-se o Lecionário (cf. IGMR n. 128), o leitor vai então proclamar a leitura bíblica. Proclamar, como diz a Instrução Geral (n. 128), em sentido litúrgico e celebrativo, não, pois, simplesmente ler. Para tal, observe ele o que foi dito acima.
45 - Deve, pois, o leitor, para o bom exercício de seu ministério, estar consciente de suas funções litúrgicas, descritas na Instrução Geral (n. 194 a 198) e, em segundo lugar, cumprir algumas exigências, sem as quais pode ver prejudicada a sua participação. Tais exigências, mínimas, e de caráter técnico, seriam por exemplo:
a) - Vocalização, isto é, o cuidado especial em pronunciar bem cada sílaba, cada palavra;
b) - Regulação do volume da voz, de modo que se ouça bem o que é dito, especialmente em fins de frase;
c) - Regulação do ritmo da leitura, reduzindo ou acelerando a emissão de voz, segundo o caso, mas sobretudo intercalando pausas nas vírgulas e nos pontos;
d) - Modulação da voz, ou seja, mudando de tom, quando as variações do texto assim o exigir. Isto acontece porque o texto deve ser lido de acordo com o seu gênero literário;
e) - Postura corporal, aqui sempre ereta, com a cabeça levantada, olhando com freqüência a assembleia, para que a leitura se torne verdadeiro diálogo e comunicação frutuosa.
O ambão, de onde se proclamam as leituras, o salmo e o Evangelho (IGMR n. 58 e 309), deve ficar no presbitério, não muito junto do altar nem também distante dele, de preferência do lado direito. Deve distinguir-se, em bom gosto e decoro, da estante do comentarista ou do cantor.
Esta deve ficar em lugar apropriado, mas fora do presbitério, dada a sua função distinta na liturgia (IGMR n. 105b). O lugar do órgão e de outros instrumentos, assim como do grupo de cantores, dado o seu ministério a serviço da assembleia, deve também ficar em lugar apropriado, não porém no presbitério (IGMR - n. 312 e 313).
2.2 - Salmo Responsorial (IGMR n. 61 e 129)
46 - Após a primeira leitura, com um pequeno intervalo, canta-se ou recita-se o Salmo Responsorial. Aqui a assembleia celebrante é chamada a uma resposta à palavra de Deus ouvida. Trata-se de diálogo: Deus fala, em comunicação descendente, e a Igreja responde, em comunicação ascendente. Mas responder à Palavra divina só é possível com outra palavra sagrada. Daí ser aqui um salmo. O salmo responsorial é portanto um prolongamento da primeira leitura, em sentido lírico-meditativo. Do ambão, o salmista, usando o Lecionário, canta ou recita o refrão, seguido da repetição pela assembleia, continuando depois o salmista com o canto das estrofes, intercalando entre elas a resposta do povo. Esta é a maneira tradicional, também judaica, de cantar ou recitar os salmos.
47 - Deve o salmista cultivar a espiritualidade sálmica, tanto quanto possível, pois o ideal é que ele saiba identificar a sua voz com a do autor sálmico. Aqui pode surgir, porém, alguma dificuldade, pois os sentimentos de quem agora salmodia podem não ser os do autor sálmico. Por exemplo: o salmista está feliz, mas o salmo fala de tristeza, de angústia etc.. Ou, então, o contrário: o salmista está triste, e o texto sálmico é de alegria, de exultação, de louvor. Para tanto, ser-lhe-á útil não apenas conhecer o gênero literário do salmo (de louvor, de súplica, de penitência etc.), mas também reconhecer que ele salmodia não em nome pessoal, mas em nome da Igreja, aplicando a si mesmo a exortação de São Paulo: “Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram” (cf. Rm 12,15).
48 - Outro dado importante é saber que o salmo não é uma oração composta em prosa, mas poema de louvor (cf. IGLH n.103), e mesmo quando recitado ou rezado predomina seu caráter musical. Vê-se, pois, que, por tudo o que aqui foi afirmado, o ministério do salmista distingue-se - e muito - do ministério do leitor.
49 - Santo Agostinho diz que o salmo é a voz do Cristo total, Cabeça e Corpo, e os Santos Padres sempre viram o saltério como profecia messiânica, tornando-se este entendimento, depois, o entendimento de toda a Igreja. Assim ela sempre vai usar os salmos em dupla vertente cristológica. Na voz do homem sofrido, angustiado e oprimido, a Igreja percebe a voz de Cristo, dirigida ao Pai. É a cristologização “de baixo para cima”, ou ascendente. Nela Cristo se apresenta no seu estado de kénose, de esvaziamento, de humilhação, de Servo padecente. É o Cristo histórico, da paixão, condicionado e limitado humanamente.
50 - Na outra linha, a voz que se ouve no salmo é de direção descendente, isto é, a cristologização “de cima para baixo”. Aqui Cristo não é mais visto embaixo, como sujeito do salmo, mas em cima, como seu destinatário, e a voz então que se ouve no salmo é a do fiel ou a da própria Igreja que se dirige ao Senhor ressuscitado, na sua condição então gloriosa. O Cristo não é mais agora o Cristo das dores, mas o Cristo da Páscoa, da glória, que, junto do Pai, reina eternamente.
2.3 - 2ª leitura (IGMR n. 57 e 130)
51 - A segunda leitura, na Liturgia da Palavra, é sempre um texto do Novo Testamento (das epístolas ou do Apocalipse). Não traz uma ligação temática com o Evangelho, como a primeira leitura. Traz, porém, uma identificação no aspecto vivencial, prático, uma vez que já descreve, de maneira pastoral, a experiência na vida concreta das comunidades, ou então desperta para essa experiência.
52 - Considerando o aspecto hierárquico da Liturgia, as duas primeiras leituras são feitas pelo leitor, leigo, hoje com ministério instituído, a exemplo do acólito. Para a segunda leitura, cabem aqui as mesmas orientações ao leitor, como na primeira. Não havendo nas comunidades leitor ou leitores que tenham recebido o ministério, as leituras podem ser feitas por outros, devidamente preparados.
2.4 - Aclamação ao Evangelho (IGMR n. 62, 131 e 132)
53 - Após a segunda leitura, a assembleia, de pé, canta a aclamação ao Evangelho, enquanto o Evangeliário é levado do altar, onde se encontrava, para o ambão. Trata-se de um momento solene, festivo, com um canto, pois, vibrante e de alegria pascal, um "viva" empolgante de um povo redimido. De acordo com o espírito da Liturgia, este canto deve ser sempre um versículo do próprio Evangelho, conservando o refrão do Aleluia. O Aleluia, porém, não é cantado no tempo da Quaresma e na Quinta-Feira Santa. Na liturgia quaresmal, canta-se uma aclamação simples, sem aleluia, e na Ceia do Senhor da Quinta-Feira Santa canta-se o "novo mandamento". O tempo em que mais deve redundar o Aleluia na Igreja é o Tempo Pascal, com início de pura exultação já na Vigília Pascal do Sábado Santo quando se canta o tríplice Aleluia após as leituras bíblicas e antes do Evangelho.
2.5 - Proclamação do Evangelho (IGMR n. 134, 276 e 277)
54 - A aclamação feita no momento anterior diz bem: não é aclamação a um momento, mas a uma Pessoa, à Pessoa do próprio Filho de Deus, Verbo Eterno, gerado nas profundezas do Pai. Cristo é, na verdade, ele próprio, o verdadeiro Evangelho do Pai.
55 - Como o Evangelho é o ponto mais alto da Liturgia da Palavra (IGMR - n. 60), cresce também o grau da hierarquia litúrgica quanto à sua proclamação, ou seja, ela se faz mediante o sacerdócio ministerial ordenado. Seu grau de solenidade admite também incensação, mas a sua proclamação é de natureza ministerial, não, pois, presidencial. Daí então ser tarefa específica do diácono (IGMR n. 171c), que, para tal, pede a bênção, ao sacerdote ou ao bispo presidente. Na falta do diácono, a proclamação faz-se pelo presbítero, ou ainda, na falta do presbítero, pelo bispo celebrante e presidente. Na missa com o bispo, o presbítero lhe pede a bênção. Em missa concelebrada, com ausência de diácono, o Evangelho deve ser proclamado por um dos concelebrantes (cf. IGMR - n. 212b), previamente convidado pelo presidente.
Nota: Após a proclamação, o Evangeliário é colocado num lugar apropriado, não mais, porém, sobre o altar. Já na celebração da Palavra, com ausência do diácono, a proclamação do Evangelho pode ser feita pelo leigo que a preside.
56 - A Instrução Geral insiste que um e o mesmo sacerdote exerça a presidência da missa (cf. IGMR n. 108), afastando então aquela hipótese de presidência colegiada ou partilhada, o que não exclui, digamos, a participação dos concelebrantes nas partes que lhes são confiadas pelas próprias normas da celebração.
2.6 - Homilia (IGMR - n. 65, 66 e 136)
57 - A palavra homilia significa "entretenimento familiar". É uma conversa doméstica em termos de Igreja. Deve, pois, ser simples, prática, clara, concisa e objetiva. Visa colocar em prática aquilo que a Palavra de Deus, principalmente o Evangelho, propôs à assembleia celebrante (cf. IGMR - n. 65), por isso não pode ser considerada independente. É diferente, quanto a seu gênero, de outras pregações, como a da evangelização e da catequese, embora, em algumas situações, a homilia deva aparecer também como evangelizadora e catequética, isto acontecendo, p. ex., quando os fiéis reunidos não se encontram verdadeiramente evangelizados e catequizados.
58 - “A homilia é um dos elementos mais antigos da Liturgia da Palavra”. Já a encontramos no século segundo, no testemunho de Justino: “Depois, quando o leitor acabou, quem preside exorta e incita por palavras à imitação destas coisas excelsas (Apologia I, c.67). É de se esperar que a homilia leve à celebração sacramental que a segue, pois a história da salvação, com todas as suas maravilhas, vai cumprir-se de modo privilegiado no rito sacramental da Eucaristia.
59 - Vê-se então que a homilia deve fugir de todo subjetivismo ideológico e de toda retórica sem vida. Objetiva aplicar à vida a mensagem da palavra divina, em dimensão profética, a fim de que os fiéis vivam sempre da fé professada, uma vez que os mistérios cristãos devem ser normas de vida cristã.
60 - A homilia geralmente é feita pelo presidente e, em missas concelebradas, pode ser feita por outro concelebrante, ou mesmo por um diácono, solicitado no caso pelo presidente (IGMR - n. 66 e 213). Não deve, porém, ser omitida nas missas dominicais e nas missas com grande participação do povo (IGMR - n. 66b).
2.7 - Profissão de fé (IGMR 67 e 137)
61 - A profissão de fé do povo de Deus deve ser sempre límpida, viva, confiante e humilde. Deve ser uma resposta de fé e de compromisso, tanto individual quanto comunitário, na vivência da Palavra de Deus, ouvida e explanada na Liturgia da Palavra (IGMR - n. 67).
62 - O "Creio", mais que uma simples enumeração dos artigos de nossa fé e uma síntese dogmática das verdades em que cremos, deve ser memória dos acontecimentos salvíficos, que se faz desde a Criação, no desenrolar dos desígnios salvíficos de Deus até a Páscoa da Ressurreição e glorificação final. É portanto uma profissão de fé eclesial, pascal, em forma de símbolo. "Creio", "Símbolo dos Apóstolos" e "Símbolo Niceno-Constantinopolitano" são nomes dessa profissão de fé, que se faz sempre após a homilia, nas missas dominicais, festas ou solenidades, salvo quando não prescrita, como na Quinta-Feira Santa, por exemplo. O “Creio” é cantado ou recitado pelo sacerdote, com o povo (IGMR n.68b e 137). Toda a assembléia, de pé, deve participar desse momento litúrgico.
2.8 - Preces da comunidade ou Oração universal (IGMR - n. 69 a 71 e 138)
63 - Na oração universal, ou oração dos fiéis, como ensina a Instrução Geral, “exercendo a sua função sacerdotal”, o povo reunido suplica por todos os homens. “Convém que normalmente se faça esta oração nas missas com o povo, de tal sorte que se reze: pela Santa Igreja, pelos governantes, pelos que sofrem necessidades, por todos os homens e pelo bem-estar de todo o mundo” (cf. IGMR n. 69; SC 53). Acrescentem-se também nelas as necessidades concretas da comunidade celebrante, sem estender muito o número das preces. De sua cadeira, o sacerdote presidente, com breve exortação, introduz a oração universal e, depois, a conclui (n. 71 e 138).
64 - Pela Instrução Geral, vê-se então que se trata de verdadeira oração universal, não voltada, pois, só para as intenções da comunidade celebrante. Um exemplo dessa oração, no seu caráter de universalidade, vamos encontrar na Ação Litúrgica da Sexta-Feira da Paixão. Esta se inspira nas recomendações de São Paulo ao seu discípulo Timóteo (cf. 1Tm 2,1-2), o que lhe dá, sem dúvida, um caráter de oração bíblica, reforçando ainda mais o seu aspecto de oração verdadeiramente comunitária e eclesial.
65 - Com as preces da comunidade, encerra-se a primeira parte da missa, que é a Liturgia da Palavra, lembrando-nos de que esse primeiro momento nos prepara para o momento seguinte, o da Liturgia Eucarística, ordenando-se então todo ele, liturgicamente, para o grande momento da Eucaristia.
João de Araújo